É fundamental compreender que as sanções não são um fim em si mesmas, mas um meio que precisa ser acompanhado de uma estratégia de pressão interna com objetivos claros e realizáveis.
As sanções impostas pelos Estados Unidos à Venezuela podem ser classificadas em dois grandes grupos: as sanções individuais, direcionadas a violadores de direitos humanos, e as sanções econômicas, voltadas para enfraquecer a estrutura financeira do regime. Estas últimas podem ser divididas da seguinte forma:
- Petróleo: Desde 2019, foram bloqueadas as transações entre a PDVSA e entidades norte-americanas, limitando exportações e pagamentos.
- Finanças: Está proibida a negociação de títulos e dívidas emitidas pelo governo venezuelano.
- Mineração: As operações no setor de ouro foram restringidas.
- Bancos: Instituições financeiras enfrentam restrições, o que dificultou importações e transações, afetando negativamente diversos aspectos da economia nacional.
- Criptomoeda: Está proibida qualquer transação com o “Petro”, a moeda digital criada pelo chavismo.
Apesar de estarem em vigor há quase uma década, essas medidas não atingiram seu objetivo principal: a retirada do chavismo do poder. Isso se deve, em grande parte, à ineficácia da oposição política em capitalizar as sanções e gerar uma mudança interna. Enquanto isso, o chavismo conseguiu convencer boa parte da população de que as sanções econômicas são as responsáveis diretas pela crise, desviando a atenção da real causa do colapso nacional.
Quem conhece a realidade venezuelana sabe que, hoje, as sanções econômicas já não atingem de forma decisiva o regime, mas sim a população, dificultando ainda mais sua capacidade de resistência. O resultado tem sido o aumento contínuo da diáspora.


Por outro lado, as sanções individuais, aplicadas contra criminosos e abusadores, não ferem a soberania. A soberania reside no povo, e é impensável que este escolha, conscientemente, quem o oprime. Portanto, qualquer ação externa que atinja diretamente os tiranos e facilite o caminho para a liberdade deve ser bem-vinda.
Uma sociedade empobrecida é mais vulnerável à dominação. Não é coincidência que regimes autoritários destruam deliberadamente a economia ao mesmo tempo em que impõem censura e controle social. Para que o povo possa resistir, é essencial preservar sua capacidade econômica e bem-estar. Nesse sentido, as sanções que afetam a economia civil acabam fortalecendo os tiranos ao enfraquecer a cidadania.
Outro ponto crucial é o papel da oposição venezuelana que pediu essas sanções: após seu fracasso político, retirou-se do cenário sem assumir responsabilidade pelas consequências econômicas. Esse vácuo foi explorado pelo chavismo, que preencheu o espaço com propaganda, desviando o foco do fato de que as sanções mais relevantes são as individuais. O descrédito dessa oposição ficou evidente nas primárias de 22 de outubro de 2023, quando María Corina Machado obteve 92% dos votos, demonstrando o repúdio da população à antiga liderança opositora, agora funcional ao regime.
É fundamental compreender que as sanções não são um fim em si mesmas, mas um meio que precisa ser acompanhado de uma estratégia de pressão interna com objetivos claros e realizáveis. Na Venezuela, o objetivo era retirar o chavismo do poder, mas sem uma força interna organizada e articulada, as sanções mostraram-se ineficazes. Para que haja mudanças reais, é necessária uma rota política concreta que crie as condições para uma transformação institucional.
Com a reconfiguração da oposição em torno de María Corina Machado, houve um avanço político importante. No entanto, a fragilidade da estratégia após 28 de julho de 2024 — que não conseguiu responder às demandas operacionais dos setores militar e policial para neutralizar o chavismo — estagnou o desfecho esperado. Sem uma estrutura capaz de derrotar operativamente o regime, nenhum apoio externo pode se traduzir em resultados concretos. Por isso, os Estados Unidos optaram por focar na negociação para libertar seus cidadãos sequestrados na Venezuela, enquanto Maduro permanece no poder, reprimindo uma oposição fragilizada e indefesa.
Voltando o olhar para o Brasil, as lições são claras. Se a pressão externa for articulada com uma estratégia interna sólida, com metas concretas e viáveis, participação cidadã ativa e vitórias possíveis no curto prazo, é possível avançar contra um regime autoritário. Mas se a estratégia for um jogo de soma zero, sem incentivos claros para desarticular a coesão do inimigo, e ao mesmo tempo castigar a população — já afetada pelo mau governo de Lula da Silva —, o mais provável é o fortalecimento do oficialismo. Nesse cenário, o regime usará toda sua máquina propagandística para projetar uma imagem de estabilidade, mirando as eleições de 2026 e oferecendo incentivos às bases opositoras para que participem da preservação ou conquista de espaços de poder. Mesmo que os Estados Unidos não reconheçam o processo eleitoral, o precedente venezuelano mostra que a interlocução internacional continua acontecendo com quem detém o poder de fato.
O que se viveu na Venezuela deve servir de alerta. O chavismo conseguiu, durante anos, dividir a oposição entre “radicais” e “moderados”, construindo narrativas que alimentaram desconfiança mútua e paralisaram a luta — tudo isso típico da guerra híbrida: confusão e descrença. Preocupa-me que a história se repita no Brasil. Felizmente, há líderes capazes de compreender este cenário e agir em consequência. A chave está em construir uma força maior que a do tirano, com visão, coesão e um projeto de país à altura de seu destino de grandeza.