Putin, que não criticou o presidente dos EUA nenhuma vez desde seu retorno à Casa Branca, até agora resistiu à realização de uma cúpula com Trump, argumentando que tal reunião deveria ser cuidadosamente preparada e não poderia ser um mero gesto de fachada.

Moscou, 7 de agosto (EFE) – O presidente russo, Vladimir Putin, concordou em se reunir com seu homólogo americano, Donald Trump, na próxima semana. O acordo foi firmado pouco antes do vencimento do ultimato de dez dias da Casa Branca para interromper a guerra na Ucrânia.

“Concordamos em realizar uma reunião bilateral de alto nível nos próximos dias, ou seja, entre os presidentes Putin e Trump”, anunciou Yuri Ushakov, assessor de política externa do Kremlin, nesta sexta-feira.

Putin, que está no poder há 25 anos, não se encontra com um presidente dos EUA desde junho de 2021, quando se encontrou com Joe Biden em Genebra, o que não conseguiu evitar a guerra. A última vez que se encontrou com Trump foi em junho de 2019, em Helsinque.

E Putin cedeu.

Putin, que não criticou o presidente dos EUA nenhuma vez desde seu retorno à Casa Branca, até agora resistiu à realização de uma cúpula com Trump, argumentando que tal reunião deveria ser cuidadosamente preparada e não poderia ser um mero gesto de fachada.

Na realidade, o Kremlin não queria que a reunião se concentrasse apenas na Ucrânia, mas sim que fosse uma cúpula abordando questões de segurança internacional e estabilidade estratégica, bem como a divisão de esferas de influência, no estilo de Yalta.

No entanto, a teimosia de Putin em se recusar a declarar um cessar-fogo, mesmo por um período de 30 dias, acabou esgotando a paciência da Casa Branca — que viu nisso uma forma de ganhar tempo para continuar avançando na frente — e precipitou os eventos.

“A data aproximada foi definida para a semana que vem, mas as partes estão apenas começando a se preparar para esta importante reunião, e é difícil prever quantos dias esses preparativos levarão”, disse Ushakov.

Trump, que manteve seis conversas telefônicas com Putin desde o começo do ano, havia dito no dia anterior que havia uma “chance muito boa” de a reunião ocorrer “muito em breve”.

O local da reunião também foi acertado.

O diplomata russo enfatizou que “o local da reunião também foi acordado em princípio, mas informaremos sobre isso mais tarde”.

A imprensa especula que poderia ser a Arábia Saudita, onde ocorreram vários encontros entre representantes de ambos os países nos últimos meses, ou os Emirados Árabes Unidos, que participaram ativamente das trocas de prisioneiros entre russos e ucranianos.

Outra opção seria a Turquia, sede das três primeiras rodadas de negociações entre Moscou e Kiev. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, conversou por telefone com seu homólogo turco, Hakan Fidan, na quinta-feira, durante a qual discutiram a Ucrânia.

O acordo da cúpula foi alcançado durante uma reunião na quarta-feira no Kremlin entre Putin e o enviado especial Steve Witkoff, com quem ele se encontrou pela quinta vez.

“O importante é que esta cúpula seja bem-sucedida e produtiva”, enfatizou Ushakov.

Sobre uma futura cúpula entre os dois líderes e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, Witkoff também a colocou sobre a mesa no Kremlin.

“O lado russo deixou essa possibilidade completamente implícita”, explicou ele, acrescentando: “Acredito que ambos os lados podem ficar satisfeitos com o resultado das negociações.”

A cúpula não impede a imposição de tarifas aos parceiros da Rússia

O que não impediu o acordo para uma cúpula entre Rússia e EUA foram as tarifas secundárias que Trump ameaçou impor à Índia e à China, os principais importadores de petróleo russo.

Trump assinou uma ordem executiva na quarta-feira impondo tarifas adicionais de 25% à Índia em retaliação às suas compras de petróleo russo, que aumentaram desde o início da guerra, elevando a tarifa total sobre as importações indianas para 50%.

As tarifas sobre a China continuam incertas, embora tal decisão possa desencadear uma guerra comercial quando a trégua tarifária entre as duas potências terminar em 12 de agosto.

Nesse sentido, a Rússia defendeu hoje a parceria estratégica com a Índia, alvo de sanções dos EUA por importar petróleo russo, como prioridade durante a visita do conselheiro de Segurança Nacional da Índia, Ajit Doval.

“A Rússia e a Índia estão unidas por fortes laços de amizade que resistiram ao teste do tempo. Fortalecer a parceria estratégica, privilegiada e especial com a Índia é uma prioridade para o nosso país”, disse Sergei Shoigu, Secretário do Conselho de Segurança da Rússia.

Moscou sempre defendeu a Índia e a China, exportando mais de 70% de seu petróleo bruto para esses dois gigantes, que se beneficiam de descontos em hidrocarbonetos russos.