Tarifas são contraproducentes para os Estados Unidos porque vão aumentar preços, diminuir consumo e reduzir lucros corporativos, alerta diretor da Funcas (Fundação Caixa Econômica), Raymond Torres.
Madri, 4 mar (EFE) – A guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afetará principalmente seu país, que sofrerá um aumento nos preços e uma eventual contração da economia, o que, por sua vez, desacelerará o crescimento econômico global, de acordo com especialistas consultados pela EFE.
A entrada em vigor, na terça-feira, das tarifas sobre os produtos do México, Canadá e China que entram nos EUA põe em risco o livre comércio e o desenvolvimento das cadeias globais de valor que sustentaram o crescimento mundial nas últimas três décadas, depois que se pensou inicialmente que as ameaças de Trump seriam mais uma moeda de troca do que uma realidade.
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Os primeiros a sofrer serão os Estados Unidos, de acordo com o diretor da Funcas (Fundação Caixa Econômica), Raymond Torres, que considera que as tarifas são contraproducentes para o país, porque os preços subirão, o consumo cairá e os lucros das empresas serão reduzidos.
Torres acrescenta a isso o impacto indireto, “talvez mais negativo”, sobre a confiança das empresas e sobre o clima de negócios em um contexto em que as tarifas estão sendo implementadas, mas “os cortes de impostos prometidos não foram mencionados novamente”.
Vários analistas de mercado fazem referência em seus comentários diários ao modelo de previsão do PIB em tempo real do Federal Reserve de Atlanta, que na segunda-feira antecipou uma contração na economia dos EUA no primeiro trimestre de 2,8%, em termos anualizados e ajustados sazonalmente, em comparação com 2,3% em 19 de fevereiro.
A contração seria devida, em grande parte, a uma queda no consumo das famílias, ao qual o aumento da inflação poderia acrescentar cerca de US$ 1.200 por ano, segundo estimativas do Peterson Institute for International Economics para uma família típica dos EUA.
Enrique Feás, pesquisador sênior do Elcano Royal Institute, explicou à EFE que o comércio “sofrerá consideravelmente” e “gerará muita confusão e desconfiança” no mercado norte-americano, razão pela qual ele também prevê que “as expectativas de inflação, que já estavam aumentando há algumas semanas, simplesmente aumentarão ainda mais”.
Além disso, ele questionou “quem pode tomar decisões de investimento neste momento nos EUA se não se sabe se essas tarifas permanecerão em vigor por meses ou apenas por alguns dias” e se elas também serão impostas à União Europeia (UE).
À espera de tarifas para a Europa
Para a UE, o governo Trump ainda está estudando “tarifas recíprocas” a partir de abril, embora não esteja claro se elas serão adicionais às tarifas já anunciadas de 25% sobre aço e alumínio a partir de 12 de março.
Nesse sentido, Feás indicou que essas tarifas “chegam no pior momento, com muita incerteza sobre o que vai acontecer na Ucrânia”, e acredita que serão muito negativas, principalmente para os países mais dependentes das exportações para os EUA, entre eles Alemanha, Itália e, em menor grau, França.
Trump disse na segunda-feira que imporia tarifas sobre importações agrícolas a partir de 2 de abril, uma ameaça direta aos interesses comerciais da UE neste setor.
Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações agroalimentares da UE, avaliadas em cerca de € 27,2 bilhões, de acordo com o escritório estatístico da UE, Eurostat, em comparação com importações dos EUA no valor de € 11,734 bilhões em 2023, colocando o país norte-americano como o quarto maior importador, atrás do Brasil, Reino Unido e Ucrânia, com uma participação de 7%.
Torres concorda que a Europa, com “crescimento anêmico”, será seriamente afetada em alguns setores, como o automobilístico, que já sofre com a concorrência da China.