O primeiro-ministro Ralph Gonsalves perdeu as eleições de quinta-feira após cinco mandatos consecutivos, totalizando 24 anos no poder. O líder do Partido Trabalhista Unificado (ULP) tem sido um defensor ferrenho das ditaduras em Cuba e na Venezuela e cedeu seu país para a troca de prisioneiros com os EUA que levou à libertação de Alex Saab.
Pouco se sabe sobre São Vicente e Granadinas, mas esta pequena nação insular de apenas 100 mil habitantes foi fundamental para o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, não só porque seu governo se tornou o segundo maior aliado do chavismo no Caribe — depois de Cuba —, mas também porque foi lá que ocorreu a troca de prisioneiros com os Estados Unidos durante a presidência de Joe Biden, resultando na entrega de Álex Saab a Caracas. Isso foi uma clara demonstração da estreita relação política entre as duas nações, uma relação que agora chegou ao fim. Nas eleições de quinta-feira, o primeiro-ministro Ralph Gonsalves foi derrotado após cinco mandatos consecutivos, totalizando 24 anos no poder, tendo vencido sua primeira eleição em 2001, apenas alguns anos depois de Hugo Chávez assumir a presidência da Venezuela.
O líder do Partido Trabalhista Unido (ULP), mais conhecido como “Camarada Ralph”, foi derrotado nas urnas pelo Partido Novo Democrático (NDP), de centro-direita, que retorna ao poder após ter governado o país entre 1984 e 2001. O NDP é agora liderado pelo historiador e cientista político Godwin Friday, que se tornará o novo primeiro-ministro, tendo conquistado 57,61% dos votos, contra 42,27% do ULP, partido marxista que estava no poder. O partido vencedor garante, assim, 14 das 15 cadeiras eleitas pelo voto popular no parlamento, já que as outras seis são indicadas pelo governador-geral. O partido de Gonsalves, que estava deixando o poder, viu suas cadeiras despencarem de nove para apenas uma.


Ralph Gonsalves tem sido um defensor ferrenho dos regimes cubano e venezuelano. De fato, ele viajou a Caracas em diversas ocasiões, principalmente atuando como mediador no conflito fronteiriço entre Venezuela e Guiana pela região do Essequibo. O chavismo tinha um de seus aliados mais fortes em São Vicente e Granadinas, que ofereceu apoio em organizações multilaterais em troca de petróleo barato por meio do acordo PetroCaribe. Esse acordo incluía um desconto de 35% no combustível e prazos de pagamento de até 20 anos, dos quais Chávez e Maduro, assim como essas pequenas nações caribenhas e centro-americanas, aproveitaram ao máximo. Em 2022, a Venezuela chegou a perdoar uma dívida de US$ 70 milhões de São Vicente e Granadinas sob o acordo PetroCaribe e, após o perdão, o país se tornou o primeiro a retomar o recebimento de petróleo bruto sob os mesmos termos.
No entanto, São Vicente e Granadinas ganhou destaque nos últimos anos devido ao caso de Alex Saab, identificado pelos EUA como testa de ferro de Nicolás Maduro. Nesse pequeno país, o empresário colombiano — agora Ministro da Indústria e Produção Nacional no regime de Maduro — foi entregue pela administração Biden à ditadura venezuelana em troca de 10 cidadãos americanos presos na Venezuela, bem como da libertação de 20 presos políticos venezuelanos. Saab passou quase quatro anos na prisão após ser detido em Cabo Verde e posteriormente extraditado para os EUA. São Vicente e Granadinas também serviu como ponto de conexão, em agosto de 2020, para dois empresários cabo-verdianos que viajaram a Caracas para se encontrar com Maduro, uma missão paga pelos advogados de Saab, enquanto o colombiano estava detido em Cabo Verde e usava sua influência para tentar evitar a extradição para os Estados Unidos.