O que deveria ser motivo de comemoração — completar duzentos anos merece isso — é, na realidade, uma desgraça, pois os bolivianos se veem presos em uma gangue criminosa, sofrendo uma crise econômica e com uma população que vê seu futuro se esvaindo.
Na década de 1990, como resultado do programa de capitalização de Gonzalo Sánchez de Lozada, a Bolívia consolidou sua posição como ator estratégico no mercado internacional de energia. Infelizmente, nessa mesma época, a sombra do socialismo do século XXI iniciou suas operações desestabilizadoras no país.
Os assaltantes de estrada, liderados por Evo Morales, Oscar Olivera, Roberto de la Cruz e Felipe Quispe, mas apoiados por Cuba e Venezuela, ensanguentaram a Bolívia com a Guerra da Água em fevereiro e abril de 2000, a Guerra da Cocaína em janeiro de 2002 e, finalmente, a Guerra do Gás em outubro de 2003, que levou à derrubada de Sánchez de Lozada.
Consolidado o golpe de Estado, Carlos Mesa, que assumiu a presidência em decorrência de sua deslealdade a Sánchez de Lozada e de suas relações obscuras com os golpistas, iniciou o processo de desinstitucionalização do país. Primeiro, concedendo anistia a todos os milicianos e membros de gangues que participaram da derrubada e, segundo, estabelecendo uma Assembleia Constituinte em favor de Evo e seus parceiros cubanos e venezuelanos.
Evo Morales venceu as eleições de 2005, mas isso não foi um triunfo para o movimento indígena, como ele queria que acreditássemos, mas sim a anexação da Bolívia ao clube das ditaduras socialistas do século XXI. Perdemos nossa pátria, perdemos a esperança, perdemos a liberdade.


Evo aplicou imediatamente a receita do Foro de São Paulo: 1) desinstitucionalização das Forças Armadas, 2) centralização da economia nas mãos do governo central e 3) modificação da Constituição.
A indústria do gás foi a primeira a cair nas garras do regime. Os recursos que entraram no país com a venda de gás para os mercados do Brasil e da Argentina somaram aproximadamente US$ 47,142 bilhões, e nenhum investimento foi feito pelo governo Evo Morales. Uma década de ouro foi perdida devido ao boom dos altos preços das commodities. No entanto, Luis Arce Catacora, não muito atrás, seguiu os passos de seu antecessor e não fez descobertas significativas, resultando em uma queda nas receitas do gás.
Mas não satisfeitos com isso, a partir de 2014, eles saquearam implacavelmente os recursos financeiros dos bolivianos, totalizando US$ 15 bilhões; também confiscaram US$ 10 bilhões de pensões de trabalhadores em fundos de pensão e esbanjaram US$ 15 bilhões de reservas internacionais. Essas são as razões pelas quais a Bolívia enfrenta atualmente uma crise devido à falta de moeda estrangeira e combustível.
Mas não parou por aí. Em 2000, a dívida externa era de US$ 4,46 bilhões, enquanto o PIB era de US$ 8,411 bilhões. Em 2005, a dívida havia subido para US$ 4,941 bilhões, enquanto o PIB era de US$ 9,573 bilhões. O aumento drástico começou em 2017, quando a dívida com organizações multilaterais e bilaterais atingiu quase US$ 10 bilhões. Segundo dados do Banco Central da Bolívia, a dívida externa de médio e longo prazo atingiu US$ 13,805 bilhões em junho de 2025. Dentre esses empréstimos, os credores multilaterais são os mais importantes, liderados pelo BID, CAF e Banco Mundial, enquanto a China se destaca entre os credores bilaterais.
Quais foram as consequências de todo esse desperdício?
Dados recentes da Bloomberg indicam que a Bolívia possui um dos maiores índices de risco da região, com 1.801 pontos, superado apenas pela Venezuela, que lidera a lista com 2.700 pontos. Sobre isso, Juan Pablo Spinetto, especialista em investimentos da Bloomberg , afirma: “A economia boliviana está à beira de uma crise sem precedentes, com riscos iminentes de desvalorização e calote de sua dívida externa.”
Concluindo, o que deveria ser motivo de comemoração — completar duzentos anos merece isso — é, na realidade, uma desgraça, pois os bolivianos se veem presos em uma gangue criminosa, sofrendo uma crise econômica e com uma população que vê seu futuro se esvaindo.