O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky quer evitar que seu país fique em desvantagem em um possível acordo entre os dois líderes na cúpula de Budapeste, como aconteceu no início do ano.

Um novo ataque de drones à usina de processamento de gás de Orenburg se torna um momento decisivo entre a guerra da Rússia contra a Ucrânia e uma mensagem de Volodymyr Zelensky, em meio à mediação do presidente dos EUA, Donald Trump, para encerrar o conflito. Essas instalações — com capacidade para processar 45 bilhões de metros cúbicos de gás por ano — constituem uma das maiores usinas de processamento de gás do mundo e são uma fonte de energia para o governo de Vladimir Putin, já que esse combustível fóssil representa cerca de 45% da eletricidade gerada no país.

Embora a Rússia não dependa exclusivamente da usina de Orenburg para seu abastecimento interno, o gás proveniente tanto do solo russo quanto do campo de Karachaganak, no Cazaquistão, é processado ali. Isso a torna um ponto estratégico de fornecimento de energia. O último ataque de drones ucranianos acabou incendiando parte dessas instalações, forçando a suspensão dos embarques de gás.

O ataque não afeta apenas esta usina de gás russa, localizada a cerca de 1.200 quilômetros de Moscou e perto da fronteira com o Cazaquistão; acredita-se também que seja uma mensagem de Volodymyr Zelensky. Tanto a Casa Branca quanto o Kremlin estão preparando uma nova cúpula entre o presidente republicano e Vladimir Putin, a ser realizada em Budapeste, em aproximadamente duas semanas.

Declaração de Força da Ucrânia

Zelensky busca manter a pressão sobre a Rússia e fazer uma declaração de força. O líder ucraniano parece querer evitar um potencial acordo entre Trump e Putin em Budapeste, deixando a Ucrânia em desvantagem, como ocorreu no início deste ano. Na ocasião, o líder ucraniano deixou a Casa Branca após seu homólogo americano acusá-lo de “brincar com a Terceira Guerra Mundial” e de não estar preparado para a paz, exigindo também que ele cedesse 50% dos recursos naturais da Ucrânia, incluindo terras raras.

Mas a situação mudou. A tentativa de Trump de alcançar a paz por meio de negociações com Putin fracassou após o encontro no Alasca em agosto passado. Como resultado, o presidente republicano se encontrou novamente com Zelensky em Washington há três dias.

Embora ainda não haja uma resolução para o conflito, a Ucrânia está enviando sinais de que não cederá às exigências russas, que incluem a entrega dos territórios de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhia, bem como o congelamento do fornecimento de armas ocidentais e o abandono de suas tentativas de ingressar na OTAN, entre outras.

O calcanhar de Aquiles da Rússia: os hidrocarbonetos

A Rússia tem sido alvo de crescentes ataques ucranianos a refinarias, terminais e outras infraestruturas energéticas desde agosto deste ano. O objetivo: desestabilizar a economia do país governado por Putin. Só naquele mês, os ataques paralisaram quase 17% da capacidade de refino russa (cerca de 1,1 milhão de barris por dia), de acordo com um relatório da empresa americana S&P Global.

A situação pode se complicar ainda mais para a Rússia. Vários países da União Europeia — exceto Eslováquia e Hungria — concordaram em cortar o fornecimento de gás e petróleo russos até 2028, por meio de contratos de longo prazo. O texto final da lei ainda precisa ser votado pelo Parlamento Europeu. Além disso, desde a invasão da Ucrânia, a UE proibiu a compra de carvão e quase todo o petróleo da Rússia, mas não de gás. Conforme relatado pela EFE, antes da guerra, o grupo comprava 45% do seu consumo de gás de Moscou e reduziu esse volume para níveis atuais em torno de 13%.

Isso é relevante para a Rússia porque a exportação de produtos energéticos (gás, petróleo, GNL e materiais nucleares) é a espinha dorsal de sua economia. O país não é apenas um dos três maiores exportadores de energia do mundo, juntamente com a Arábia Saudita e os Estados Unidos, mas mais de 40% das receitas do orçamento federal vêm do petróleo e do gás, de acordo com dados do Ministério das Finanças da Rússia e da Agência Internacional de Energia (AIE).