Com as eleições marcadas para 16 de novembro, a jogada de colocar no centro do debate um suposto confronto entre Trump e Maduro funcionou como um gatilho: forçou os candidatos a esclarecer se sua política externa privilegiará a não intervenção e a coordenação regional, ou se estariam dispostos a apoiar ações mais duras contra o regime venezuelano.
No último debate presidencial, os oito candidatos que disputavam a presidência enfrentaram um dilema hipotético que desencadeou uma discussão acalorada: um telefonema simultâneo do presidente dos EUA, neste caso representado por Donald Trump, anunciando uma invasão terrestre da Venezuela; e outro de Nicolás Maduro pedindo solidariedade latino-americana. A questão obrigou os candidatos a definirem, em segundos, sua posição: apoiar uma intervenção militar estrangeira ou defender o princípio da não intervenção e exigir o retorno da democracia à Venezuela.


As respostas revelaram uma clara fratura no panorama ideológico. Alguns candidatos rejeitaram categoricamente qualquer apoio a uma invasão: Jeannette Jara afirmou que, apesar de estar “em desacordo com o regime de Maduro”, o direito internacional deve ser respeitado e “nenhuma invasão armada de outro país” pode ser endossada. Sua posição defendia soluções diplomáticas e a proteção dos direitos dos venezuelanos.
No extremo oposto, Johannes Kaiser expressou abertamente apoio a uma intervenção militar dos EUA, argumentando que as ações do regime venezuelano têm sido prejudiciais à estabilidade hemisférica e que, portanto, apoiaria tal medida. Sua posição está em consonância com relatos anteriores que já o identificavam como inclinado a apoiar uma ação dessa natureza.
Havia também posições intermediárias e nuances. Harold Mayne-Nicholls disse que responderia primeiro a Trump, dizendo-lhe que “não precisamos de um xerife na América Latina”, e, ao mesmo tempo, pediria a Maduro que “retornasse à democracia”. Franco Parisi afirmou que não dialogaria “por nada” com Maduro e considerou o ditador venezuelano “o principal problema” em relação à imigração. José Antonio Kast expressou seu apoio a Trump e incentivou a ação. Essas intervenções mostraram como a conversa sobre a Venezuela se entrelaçou com as demandas relativas à imigração, à ordem pública e à soberania regional.
Diversos candidatos ofereceram outras alternativas. Marco Enríquez-Ominami propôs telefonar para Lula em paralelo, sugerindo uma resposta multilateral e regional: buscar soluções com os líderes latino-americanos para rejeitar invasões e priorizar mecanismos que permitissem o retorno à democracia sem intervenções militares, que, em sua opinião, “só piorariam as coisas”. Esse argumento enfatizou o papel dos atores regionais e a diplomacia como o principal caminho.
A cena destacou não apenas as diferenças fundamentais em matéria de política externa, mas também como a questão venezuelana permeia a campanha chilena: ela serve como um barômetro moral e estratégico para medir a proximidade de cada candidato com os Estados Unidos, com os governos da região e com a defesa do direito internacional.
Analistas e veículos de comunicação que cobriram o debate destacaram que a questão sobre Trump e Maduro foi um dos momentos mais tensos e comentados do fórum, justamente pela rapidez com que obrigou os candidatos a tomar partido.
Com as eleições marcadas para 16 de novembro, a decisão de colocar um suposto confronto entre Trump e Maduro no centro do debate serviu de gatilho: forçou os candidatos a esclarecer se sua política externa priorizaria a não intervenção e a coordenação regional, ou se estariam dispostos a apoiar ações mais duras contra o regime venezuelano.
A questão continuará a moldar a agenda da campanha: além da hipotética invasão, o que ficou evidente foi o grau de alinhamento — ou rejeição — de cada candidato diante de uma decisão que teria um impacto direto na estabilidade do hemisfério.