O presidente dos EUA, Donald Trump, pediu a realização de eleições na Ucrânia e acusou seu homólogo ucraniano de ter iniciado a guerra, quando seu país foi invadido pela Rússia desde 2022, e hoje teme que um acordo esteja sendo negociado pelas suas costas que o prejudicará.
Terminar a guerra exigindo a redução do tamanho do exército ucraniano, forçando Volodymir Zelensky a desistir dos territórios invadidos, bloqueando a adesão da Ucrânia à OTAN e promovendo a instalação de um governo pró-russo em Kiev foram as condições que Vladimir Putin apresentou em 2022 como parte de um acordo de paz que só satisfazia seus interesses. Hoje, o líder ucraniano teme que nada tenha mudado e que o Kremlin esteja negociando com os EUA sobre os mesmos pontos sem a sua presença. As declarações polêmicas de Donald Trump na tarde de terça-feira aumentam as preocupações de Zelenski, que foi duramente questionado pelo chefe da Casa Branca, que não apenas convocou eleições no país invadido pela Rússia – como proposto por Moscou -, mas também se intrometeu na política interna ucraniana ao divulgar falsos índices de aprovação que comprometeriam a popularidade da atual administração.
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“Tenho a impressão de que as mesmas negociações estão ocorrendo agora, que o mesmo tom está sendo repetido, mas entre representantes da Rússia e representantes dos EUA”, lamentou Zelenski durante uma reunião com a comunidade ucraniana na Turquia, onde ele também advertiu que não responderia a quaisquer ultimatos que o governo russo possa ter feito à Ucrânia na reunião realizada na Arábia Saudita entre o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, da qual ele não foi informado e que ocorreu sem representantes russos ou europeus.“Como presidente da Ucrânia, não dei garantias a ninguém, não confirmei nada a ninguém. Além disso, não tive e não pretendo responder aos ultimatos da Rússia”, disse ele.
Tropas estrangeiras na Ucrânia
Para o líder ucraniano, um acordo de paz com a Rússia deve incluir o envio de tropas estrangeiras para a Ucrânia como medida de garantia, caso se confirme que o país não poderá entrar para a OTAN. “Tropas de alguns países fortes, como os Estados Unidos, devem ser enviadas para a Ucrânia. Discutimos isso com (Recep Tayyip) Erdogan”, disse Zelenski em uma coletiva de imprensa conjunta com seu colega turco, algo a que Donald Trump não se oporia, respondeu o presidente dos EUA de Mar-a-Lago, na Flórida, à margem de um evento de assinatura de ordem executiva. “Se eles quiserem fazer isso, ótimo. Sou totalmente a favor. Se eles quiserem fazer isso, acho que seria ótimo”, disse Trump, referindo-se aos países europeus e esclarecendo que em nenhum caso enviaria tropas americanas.
“A União Europeia ou os Estados Unidos poderiam ter nos dado esperança de sermos membros da OTAN, mas não vejo os Estados Unidos, ou alguns de seus interlocutores europeus, a favor de sermos membros. Isso significa que eles estão em sintonia com os desejos da política externa da Rússia”, acrescentou o presidente da Ucrânia, que recebeu mais de US$ 113,4 bilhões dos EUA durante o governo Biden, incluindo assistência militar, econômica e humanitária. Mas com o retorno de Trump à Casa Branca, as coisas mudaram para Zelenski. O líder republicano não está disposto a continuar financiando a defesa ucraniana a troco de nada.
Trump, entre Putin e Zelensky
Após a reunião na Arábia Saudita entre as delegações da Rússia e dos Estados Unidos, Donald Trump questionou a liderança de Volodymir Zelenski e convocou eleições na Ucrânia, em linha com a demanda do Kremlin, que busca tirar o líder ucraniano do jogo. Além disso, Trump chamou Zelenski de “incompetente”, assegurando que ele faz “declarações absurdas” e se intrometeu na política ucraniana ao afirmar que o líder europeu “tem 4% de aprovação”, algo que contradiz a pesquisa de opinião do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (KIIS) publicada em dezembro, que mostra uma queda na popularidade de Zelenski, mas a confiança em sua liderança ainda é de 52%.
Internacionales 🇺🇸💬 | El presidente de Estados Unidos, Donald Trump, ha desatado polémica con sus últimas declaraciones en las que se mostró a favor de la celebración de elecciones en Ucrania, tal como promueve Rusia, para así sacar de juego al presidente Volodímir Zelenski,… pic.twitter.com/iGjHXokQlF
— PanAm Post Español (@PanAmPost_es) February 18, 2025
A dura declaração de Trump contra Zelenski não parou por aí. O presidente dos EUA acusou seu colega ucraniano de ter iniciado a guerra, quando seu país foi invadido desde fevereiro de 2022 por forças militares sob o comando de Vladimir Putin, com quem Trump anunciou na terça-feira que “provavelmente” se reunirá antes do final deste mês. Trump está se alinhando aos interesses da retórica russa? Convocar eleições na Ucrânia e questionar a popularidade do presidente ucraniano pode ser um sinal de que ele está fazendo isso. O respeito que Trump e Putin têm um pelo outro é bem conhecido. O líder russo chegou a elogiar o magnata nova-iorquino e, após o ataque que sofreu durante a campanha, avisou-o em uma ocasião que sua vida “ainda estava em perigo”.
No entanto, a questão é muito mais complexa. Além de estar em seu direito de não continuar financiando a defesa da Ucrânia, Trump pode estar pressionando Zelenski, que, quando trabalharam juntos em seu mandato anterior, recusou-se a investigar os laços de Hunter Biden, filho do então candidato democrata Joe Biden, com a empresa de gás ucraniana Burisma, sem mencionar que o governo ucraniano tem resistido a aceitar as condições de Trump para a exploração de terras raras – um recurso natural crucial para o setor de tecnologia – no país europeu, em troca da manutenção da ajuda de Washington, como propôs o secretário do Tesouro, Scott Bessent, durante sua visita a Kiev na semana passada, que voltou de mãos vazias.