O presidente eleito da Bolívia ratificou sua vontade de “retomar as relações com os Estados Unidos”, que se mantêm em nível de encarregados de negócios desde que, em 2008, Evo Morales expulsou do país o então embaixador norte-americano, Philip Goldberg.

La Paz, 22 de outubro (EFE) – O centrista Rodrigo Paz Pereira, vencedor do segundo turno presidencial boliviano, disse em entrevista à EFE em La Paz que seu governo estabelecerá relações internacionais com países que “têm a democracia como princípio”.

“Nossa mensagem é clara: colocar a Bolívia no mapa e fazer com que o mundo venha até a Bolívia, e estamos fazendo todos os esforços para conseguir isso”, disse Paz, que tem tido uma agenda lotada desde que os resultados preliminares foram anunciados no domingo, dando a ele a vitória no segundo turno da eleição sem precedentes no país.

Esses resultados estão sendo confirmados pela contagem oficial, que também inclui votos do exterior. O atual senador tem 54,73% dos votos, contra 45,27% de seu rival, o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, com 98,98% dos votos apurados.

Paz comentou que até agora falou ou se comunicou com pouco mais de uma dúzia de presidentes e governos que o cumprimentaram, alguns dos quais expressaram a disposição de estar presentes em sua posse em 8 de novembro, para “iniciar um novo relacionamento” com o país andino.

O político enfatizou que não tem interesse em ter essa relação com países “que carecem de democracia” e indicou que, embora respeite “as relações que foram geradas diplomaticamente ao longo do tempo”, a democracia é “uma relação fundamental”.

É o caso da Venezuela e da ditadura de Nicolás Maduro, com quem o governo Luis Arce mantém uma relação próxima, assim como o ex-presidente e ex-líder do partido governista Evo Morales.

Rodrigo Paz afirmou que “há uma representação diplomática” da Venezuela na Bolívia, mas que não compartilha “do modelo democrático que eles dizem” ter no país caribenho.

“Não compartilho disso e presumo que, no futuro, nossas relações serão pautadas pelo respeito, mas é claro que terei um relacionamento com países onde nós, como governo, consideramos a democracia um princípio”, afirmou.

Isso ficou evidente na conversa telefônica que ele teve na segunda-feira com a líder da oposição venezuelana e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2025, María Corina Machado, a quem ele expressou sua disposição de se juntar à “luta” para “recuperar” a democracia na Venezuela e a convidou para sua posse.

EUA e o continente

Paz também reafirmou sua disposição de “retomar as relações com os Estados Unidos”, que vêm sendo mantidas no nível de encarregado de negócios desde que Evo Morales expulsou o então embaixador americano, Philip Goldberg, do país em 2008, acusando-o de uma suposta conspiração contra seu governo, algo que a Casa Branca sempre negou.

O vencedor do segundo turno na Bolívia já teve contato inicial com o governo Donald Trump por meio do subsecretário de Estado Christopher Landau, durante viagem que fez ao país norte-americano em setembro.

“Nosso continente é o único que conecta o norte e o sul do globo. Não há outro continente que compartilhe essa realidade, e dentro dessa realidade continental, os Estados Unidos desempenham um papel de liderança, por meio do qual restabeleceremos, se Deus quiser, se for a vontade das partes, nosso relacionamento”, afirmou.

Paz expressou sua gratidão à Argentina, Costa Rica, Equador, El Salvador, Panamá, Paraguai, República Dominicana, Trinidad e Tobago e Estados Unidos, países que o parabenizaram na terça-feira e se declararam “preparados para apoiar os esforços” do novo governo para “estabilizar” a economia da Bolívia.

Rodrigo Paz elogiou a “vontade” expressada por essas nações de “gerar trabalho futuro de cooperação e crescimento conjunto”, algo que ele também buscará “com outros continentes”.

Ele também indicou que não está fechado para abordar organizações multilaterais, mas insistiu que “é melhor abordar essas entidades com a ficha limpa, porque as coisas são mais claras” do que se alguém as abordar “precisando de empréstimos que depois se tornam barreiras” para o desenvolvimento do país.

O presidente eleito já iniciou o processo de transição com o governo de Luis Arce e espera ter “a maior presença possível de delegações internacionais” em sua posse.