O investimento para divulgar anúncios entre julho de 2024 e agosto de 2025 está estimado em 2,79 milhões de córdobas (mais de 75.700 dólares). Entre os principais anunciantes destaca-se a Embaixada da China, de acordo com a investigação do observatório Probox.
Na era das plataformas digitais, as ditaduras encontraram um novo nicho para disseminar sua propaganda. Isso não acontece apenas com o chavismo na Venezuela; na Nicarágua, o regime de Daniel Ortega busca simular uma suposta popularidade que não existe. Por meio de uma elaborada estrutura de comunicação, composta por veículos de mídia aliados e contas de militantes ou “trolls”, o regime sandinista amplifica sua mensagem.
Somente entre julho de 2024 e agosto de 2025, picos de atividade digital foram registrados na Nicarágua, coincidindo com acordos firmados com o regime chinês. Durante esse período, foram identificadas mais de 2.200 menções a palavras-chave como “China”, “cooperação”, “fraternidade”, “aliança” e termos similares, segundo uma nova pesquisa do observatório ProBox, em conjunto com o portal de notícias Expediente Público e o jornal La Prensa. Por trás disso, existe toda uma estrutura cujo financiamento é respaldado pelo comunismo de Xi Jinping.
Analisando o período entre janeiro e setembro de 2025, a livraria Meta identificou “726 anúncios pagos que alcançaram o público na Nicarágua, promovidos por 229 sites diferentes, gerando entre 96,7 e 112,2 milhões de impressões (o número de vezes que o conteúdo é exibido na tela de um usuário, independentemente de o mesmo usuário tê-lo visualizado várias vezes)”. O investimento para distribuir o material é estimado em 2,79 milhões de córdobas (mais de US$ 75.700). Entre os principais anunciantes, destaca-se a Embaixada da China (com 89 anúncios), segundo a pesquisa.
Jogo eletrônico chinês espalha propaganda na Nicarágua
Não é coincidência que os anúncios sejam financiados pelo comunismo chinês. A aliança com os sandinistas tornou-se tão estreita que estes cederam um território maior que Gaza e a Cisjordânia juntas para operações de mineração. Esta é uma estratégia de Daniel Ortega, que busca investimento e um aliado estratégico do gigante asiático para ajudá-lo a manter o poder. Enquanto isso, Pequim obtém acesso a recursos úteis para sua indústria tecnológica.
Essa cumplicidade se estende às redes sociais, com propaganda que promove o regime de Daniel Ortega. Até mesmo empresas sediadas na China participam, como a agência de notícias chinesa Xinhua (com 65 anúncios); o jornal em inglês Global Times, afiliado ao Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês (com 19); e o videogame Conflict of Nations: World War 3, com seus temas militares e geopolíticos (com 54 anúncios). De fato, segundo o relatório China Index 2024, a exposição midiática na Nicarágua ligada ao gigante asiático aumentou de 13,6% em 2022 para 54,6% em 2024.
Em outras palavras, a narrativa de “fraternidade” entre a China e a Nicarágua não é espontânea, mas sim organizada e coordenada pela Presidência, veículos de comunicação aliados e perfis de redes sociais parceiros. O objetivo, além de projetar uma suposta amizade entre as duas nações, é reduzir os espaços para a livre expressão da dissidência e silenciar o debate nessas plataformas.
Trolls a serviço de Ortega
Igualmente importante é o papel dos trolls, contas que servem como “amplificadores do discurso chinês na Nicarágua”. Dos perfis analisados no estudo, dois pertencem a mulheres que, embora não revelem seus nomes, possuem mais de 11.000 supostos seguidores, e uma delas se define como “militante da FSLN a serviço do povo da Nicarágua”.
Dessa forma, o regime liderado por Ortega, juntamente com sua esposa, Rosario Murillo, finge aceitação pública por meio desse aparato de propaganda digital, mas, na realidade, trata-se de um plano coordenado entre Pequim e Manágua. Aos poucos, o sandinismo vem copiando cada vez mais seu aliado. Prova disso é a perseguição que inflige a dissidentes no exterior, assim como faz o Partido Comunista Chinês. Essa perseguição vai desde o uso de agentes infiltrados para monitorar dissidentes ou opositores até o emprego de instituições governamentais para monitorá-los nas redes sociais.
