O presidente do Equador, Daniel Noboa, aceitou a derrota nas urnas e garantiu que seu trabalho continuará na mesma direção. “Respeitamos a vontade do povo equatoriano. Nosso compromisso não muda; pelo contrário, se fortalece.” Enquanto isso, Rafael Correa e Luisa González, que denunciaram fraude na eleição presidencial anterior, agora endossam os resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O presidente do Equador, Daniel Noboa, perdeu o referendo realizado neste domingo por iniciativa de seu governo, que buscava convocar uma assembleia constituinte nacional para substituir a atual Constituição imposta pelo ex-presidente Rafael Correa, legalizar a instalação de bases militares estrangeiras (expulsas durante a presidência de Correa), reduzir o número de membros da assembleia de 151 para 73 e eliminar o financiamento público para partidos políticos. No entanto, o voto “Não” prevaleceu em todas as quatro questões apresentadas aos equatorianos.
Em média, o voto “Não” teve uma vantagem entre 6 e 23 pontos percentuais, segundo resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Com esses números, a presidente do órgão eleitoral, Diana Atamaint, indicou que o voto “Não” venceu com uma margem significativa em todas as quatro questões.
A questão D, que tratava da convocação de uma assembleia constituinte, foi a que recebeu maior rejeição, com mais de 61% dos votos “Não” contra 38% para “Sim”, a opção defendida pelo presidente. A questão C, referente à redução do número de membros da assembleia, foi a que recebeu menor rejeição, com 53% dos votos “Não” contra 46% para “Sim”, embora essa votação ainda fosse insuficiente para a aprovação da proposta.
Outra questão que recebeu altas taxas de rejeição foi a da caixa A, referente à instalação de bases militares estrangeiras, que obteve apenas 39% de apoio para a opção “Sim”, enquanto a opção “Não” obteve pouco mais de 60%. Já a caixa B, sobre o financiamento estatal de partidos políticos, teve 58% dos equatorianos votando “Não”, em comparação com 42% que votaram “Sim”.


Noboa está fazendo controle de danos
Isso significa que Noboa perdeu e o movimento de Correa venceu? Claro, essa é a interpretação promovida pelo campo político do ex-presidente de esquerda, mas não é necessariamente o caso. É evidente que o presidente Daniel Noboa perdeu ao não conseguir aprovar nenhuma de suas quatro propostas. Mas isso não se traduz diretamente em um impulso para o movimento de Correa, que sofreu três derrotas consecutivas nas últimas eleições presidenciais.
Isso representa a suspensão de quatro propostas específicas que não conseguiram seduzir os equatorianos, a começar pelo crescente cansaço na região com a tentativa de resolver todos os problemas alterando a Constituição. O Chile passou recentemente por um processo semelhante durante o governo de Gabriel Boric, que venceu a presidência em 2021 com ampla margem, mas não conseguiu aprovar o novo texto constitucional proposto por sua administração.
O presidente Daniel Noboa está tentando minimizar os danos. Ele já aceitou a derrota nas urnas e garantiu que seu trabalho continuará na mesma direção. “Estes são os resultados. Consultamos o povo equatoriano e ele se manifestou. Cumprimos nossa promessa: perguntar diretamente a eles. Respeitamos a vontade do povo equatoriano. Nosso compromisso não muda; pelo contrário, se fortalece. Continuaremos lutando incansavelmente pelo país que vocês merecem, com as ferramentas que temos.”
Estos son los resultados. Consultamos a los ecuatorianos y ellos han hablado. Cumplimos con lo prometido: preguntarles directamente. Nosotros respetamos la voluntad del pueblo ecuatoriano.
— Daniel Noboa Azin (@DanielNoboaOk) November 17, 2025
Nuestro compromiso no cambia; se fortalece. Seguiremos luchando sin descanso por el país…
Os apoiadores de Correa já não alegam fraude
Por sua vez, o movimento Correista procurou retratar esse resultado como apoio ao projeto do ex-presidente Rafael Correa, um foragido da justiça, que, da Bélgica, celebrou o revés de Noboa e afirmou que “pela primeira vez na história do Equador, uma constituição foi votada pela maioria dos cidadãos duas vezes”, visto que a atual Carta Magna, que eles buscavam revogar, foi promovida por Correa há 17 anos.
Da mesma forma, Luisa González, que perdeu as duas últimas eleições para Daniel Noboa, afirmou que “o Equador triunfou sobre o ódio” e acrescentou: “Este país se une para dizer aos governos que os direitos dos equatorianos não devem ser desrespeitados. Há um povo digno que hoje diz não às suas mentiras, à corrupção e à destruição do país.”
É impressionante que tanto Correa quanto González, que na última eleição presidencial gritaram “fraude” e se recusaram a reconhecer os resultados, desta vez endossem os números divulgados pelo mesmo Conselho Nacional Eleitoral que acusaram de fraude há poucos meses. Portanto, enquanto Noboa perdeu uma importante batalha eleitoral para o avanço de seu projeto político, o correísmo nada ganhou. Conseguiu apenas frear as propostas do partido governista, que permanece no poder, agora legitimado por uma oposição que perdeu a narrativa de fraude das últimas eleições.