Em vez de reforçar a legitimidade do governo, as eleições podem prejudicá-lo se forem realizadas durante a guerra, acredita Andrí Maguera, ex-membro da Comissão Eleitoral Central, pois seria impossível garantir que todos os cidadãos pudessem formar uma opinião e expressar seus pontos de vista políticos na situação atual.
Leópolis (Ucrânia)/Kiev, 19 de fevereiro (EFE) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou hoje seu homólogo ucraniano, Volodymir Zelensky, de “ditador sem eleições”, em linha com o argumento da Rússia de que o líder do país invadido pelas tropas do Kremlin não tem legitimidade para negociar qualquer acordo de paz. Mas será que a Ucrânia poderia realmente realizar eleições em meio à guerra?
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Aqui explicamos por que não houve eleições presidenciais na Ucrânia e se Zelensky é considerado legítimo em seu país tanto pelo povo quanto pela constituição.
- O mandato de Zelenski terminou em maio passado, mas foi automaticamente renovado, pois a lei ucraniana proíbe a realização de eleições durante a lei marcial em vigor no país desde o início da invasão russa, há quase três anos.
- A realização de eleições durante a lei marcial também é proibida pela constituição ucraniana, que não pode ser alterada em tempos de guerra.
- Após um breve debate no outono de 2023 sobre essa questão, surgiu um consenso na Ucrânia de que Zelensky permaneceria no cargo até que as circunstâncias permitissem eleições seguras e competitivas. Esse consenso, apoiado também pela oposição e pela população, continua a se manter.
- Trump declarou na terça-feira que Zelenski é extremamente impopular na Ucrânia, onde disse que ele tem o apoio de apenas 4% da população, um número que a Ucrânia atribuiu à desinformação russa, já que, de acordo com a última pesquisa publicada na quarta-feira pelo Instituto Internacional de Sociologia em Kiev, 57% dos ucranianos confiam em Zelenski.
- Embora o apoio a Zelensky tenha caído em parte, a maioria dos ucranianos acredita que as eleições só devem ser realizadas quando a guerra acabar, disse recentemente à EFE o diretor do Instituto Internacional de Sociologia, Anton Grushetski.
De acordo com uma pesquisa recente do grupo sociológico “Rating”, 60% dos ucranianos compartilham essa opinião.
- As eleições não estão entre as questões que mais preocupam os ucranianos em meio à guerra da Rússia.
- A Rússia sempre considerou os presidentes ucranianos ilegítimos, pois os considera resultado do suposto “golpe de Estado” na Ucrânia no inverno de 2013-2014, quando o presidente pró-russo Viktor Yanukovych foi deposto depois de se recusar a assinar o Acordo de Associação entre a União Europeia (UE) e a Ucrânia, e eclodindo o chamado Euromaidan. As eleições de maio de 2014 foram vencidas por Petro Poroshenko.
- Alguns dos que gostariam que as eleições fossem realizadas são partidários de Petro Poroshenko, que foi recentemente sancionado por Zelensky, mas que também rejeitou veementemente a necessidade de eleições, alegando que a Ucrânia deve primeiro vencer a guerra, pois as eleições poderiam destruir a unidade e ser instrumentalizadas pela Rússia.
- Em vez de reforçar a legitimidade do governo, as eleições podem prejudicá-lo se forem realizadas durante a guerra, acredita Andri Maguera, ex-membro da Comissão Eleitoral Central, pois seria impossível garantir que todos os cidadãos pudessem formar uma opinião e expressar seus pontos de vista políticos na situação atual.
- Isso porque milhões de ucranianos estão no exterior e não retornariam ao país, que é atacado diariamente pela Rússia com drones e mísseis, a menos que sua segurança fosse garantida, enquanto milhões vivem nos territórios ocupados ou estão deslocados dentro do país, sem mencionar os que estão mobilizados no exército.
- A cientista política ucraniana Olesia Yajno declarou recentemente que, assim que houver motivos para suspender a lei marcial e realizar eleições, os ucranianos serão os primeiros a levantar essa necessidade, porque sempre entenderam a importância de renovar seu governo.
- No quarto de século de Putin no Kremlin, a Ucrânia viu três presidentes se revezarem em eleições justas, lembrou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andri Sibiga.