O presidente equatoriano propõe alterar a atual Constituição, promovida por Rafael Correa em 2008, além de permitir novamente a instalação de bases militares estrangeiras para combater o narcotráfico e criar um novo marco econômico liberal que permita mais investimentos no país.

Lima, 11 de novembro (EFE) – O novo referendo que será realizado no Equador neste domingo é marcado pela intenção do presidente Daniel Noboa de implementar seu projeto político por meio de uma nova constituição que deixará para trás a atual Carta Magna, o último reduto do correísmo após perder o controle das instituições.

A votação ocorrerá em meio à pior crise de violência da história recente do país, devido ao crime organizado e ao tráfico de drogas, e após um mês de protestos indígenas que foram violentamente reprimidos pelas forças de segurança.

1. Em guerra contra o crime organizado

O Equador volta às urnas em meio à pior crise de violência de sua história, caminhando para terminar o ano com o maior número de homicídios já registrado, apesar da guerra contra o crime organizado declarada pelo presidente Daniel Noboa.

O governante mantém o país sob a declaração de “conflito armado interno” contra gangues criminosas, que ele rotulou de “terroristas”, e propôs diversas reformas, incluindo a permissão para a instalação de bases militares estrangeiras novamente.

Isso levou a discussões com os Estados Unidos sobre a possibilidade de retomar um destacamento militar em território equatoriano, como havia ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial e entre 1999 e 2009, até que os militares tiveram que se retirar por ordem do ex-presidente Rafael Correa, atualmente foragido da justiça.

2. A Constituição está em jogo, o último reduto do Correísmo.

Depois de vencer pela segunda vez a correísta Luisa González, o que lhe permitiu ser reeleito em abril como presidente até 2029, Noboa quer marcar época no Equador com uma nova Constituição que será aprovada neste referendo para substituir a Carta Magna promovida por Correa em 2008 para ajustar o ordenamento jurídico ao seu projeto político enquadrado no chamado socialismo do século XXI.

O presidente tentou fazer isso com reformas na Assembleia Nacional, depois de retomar o controle dos apoiadores de Correa nas eleições deste ano, mas as leis foram anuladas pelo Tribunal Constitucional, o que o levou a propor uma assembleia constituinte.

Daniel Noboa não só procura alterar a organização estatal da atual Constituição com um novo texto, como também criar um novo quadro econômico liberal que permita a chegada de investimentos estrangeiros, face ao contexto atual, num momento de fraturas internas no Correísmo após as últimas derrotas eleitorais.

3. Noboa, enfrentando o Tribunal Constitucional

O Tribunal Constitucional, a mais alta instância judicial do país em matéria de garantias, tornou-se o único contrapeso interno ao projeto político de Daniel Noboa, limitando repetidamente os estados de exceção decretados contra o crime organizado por considerá-los não devidamente justificados.

No entanto, o que levou Noboa a lançar uma cruzada contra o Tribunal e a propor a assembleia constituinte foram as decisões que anularam uma série de leis emblemáticas do seu mandato, tramitadas de forma expressa na Assembleia Nacional e com numerosas alegações de inconstitucionalidade por estabelecerem medidas controversas como o “indulto antecipado” para policiais e militares.

Noboa chegou a liderar uma manifestação massiva contra os magistrados do tribunal, que seu governo rotulou como inimigos do Estado, contrariando os apelos de organizações internacionais para que respeitasse a independência judicial e interinstitucional.

4. Protestos indígenas violentamente reprimidos

Nas semanas que antecederam o referendo, o Equador vivenciou um mês de protestos convocados pelo movimento indígena contra o aumento do preço do diesel, após Noboa eliminar o subsídio para esse combustível, como parte das medidas de ajuste fiscal exigidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para que o país cumprisse o último programa de crédito (2024-2028) de 5 bilhões de dólares.

Os protestos culminaram em uma política de linha dura que impôs a lei e a ordem, com Daniel Noboa recusando-se a recuar em sua determinação de eliminar os subsídios ao diesel. É por isso que organizações indígenas, politicamente ligadas à esquerda, têm defendido o voto “Não” em todas as questões, juntamente com os apoiadores do ex-presidente Correa.