“Em nossas investigações judiciais sobre tráfico de drogas, não existe um ‘Cartel dos Sóis'”, disse o presidente colombiano Gustavo Petro na quarta-feira. Ele também afirmou que os membros do Trem de Aragua são apenas “migrantes excluídos” e, portanto, “não podem ser chamados de terroristas”.
No mínimo, a oposição colombiana desconfia da insistência do presidente Gustavo Petro em negar a existência do Cartel dos Sóis, enquanto os Estados Unidos mantêm uma presença militar no sul do Caribe com o objetivo de destruir esse grupo, supostamente liderado por Nicolás Maduro, segundo acusações da justiça americana. E nesta quarta-feira, o presidente colombiano reiterou sua posição sobre o assunto, mas também incluiu em sua defesa o Trem de Aragua, a quadrilha transnacional que se originou nas prisões venezuelanas e se expandiu pelo continente. São duas organizações ligadas ao crime organizado que foram declaradas “terroristas” pelos EUA, fato que Petro constantemente refuta, desafiando assim o governo do presidente Donald Trump, que acaba de desertar a Colômbia em sua luta contra o narcotráfico pela primeira vez nas últimas três décadas.
“Em nossas investigações judiciais sobre o narcotráfico, não aparece nenhum ‘cartel dos sóis’”, disse Petro nesta quarta-feira em sua conta no X, em resposta a um vídeo em que seu ministro da Defesa, Pedro Sánchez, declara à mídia que, com base em um documento chamado “Análise das capacidades críticas da ameaça”, eles identificaram apenas três grandes grupos que constituem “ameaça criminosa, ameaça terrorista”, e esses seriam: o cartel do Clã do Golfo, o cartel do ELN e o cartel das “dissidências” das FARC “em todas as suas variações”, segundo o ministro, que acrescentou que esses grupos “se dividem entre si porque seu interesse é a droga, é a ambição, não a ideologia”.
En nuestras investigaciones judiciales sobre el narcotráfico no aparece un "cartel de los soles".
— Gustavo Petro (@petrogustavo) September 17, 2025
La cocaína que llega a Venezuela en Apure, llega desde el centro de nuestro país. En Arauca no hay cultivos de hoja de coca, luego la cocaína que se pueda embarcar en Apure, tiene… https://t.co/1WMWNHgUsG
Essa declaração serviu de catalisador para que Petro voltasse a defender o Cartel dos Sóis, cuja existência ele negou em diversas ocasiões recentemente. “O Cartel dos Sóis não existe”, disse ele no mês passado, porque, em sua opinião, “é uma desculpa fictícia da extrema direita para derrubar governos que não a obedecem”. Embora em 2020, quando estava na oposição, ele tenha afirmado que “o Cartel dos Sóis estava na Colômbia”, que ele também descreveu na época como “um exército ético”.
Agora, Petro decidiu refutar os Estados Unidos e outros países, como Argentina, Paraguai, Equador e República Dominicana, que declararam o Cartel dos Sóis uma “organização terrorista transnacional”. Até o Senado colombiano deu o primeiro passo na terça-feira, aderindo à declaração com 33 votos a favor e 20 contra.
🇨🇴 Alguien le puede explicar a Colombia esta incoherencia de GUSTAVO PETRO ❓
— Misión cumplida (@ojocolombia2026) August 26, 2025
PETRO 2020:
– "El CARTEL del los SOLES estába en COLOMBIA"
PETRO 2025:
– "El CARTEL de los SOLES no existe" pic.twitter.com/4EXVTmt88O
Petro, por sua vez, oferece outras explicações sobre o tráfico de drogas para a Venezuela. “A cocaína que chega à Venezuela via Apure vem do centro do nosso país. Não há plantações de folhas de coca em Arauca, então a cocaína que pode ser transportada via Apure tem origem em regiões próximas a Bogotá. Do lado de Catatumbo, a cocaína é traficada por grupos armados que reforçaram sua presença ali desde o fechamento da fronteira.”
E como se não bastasse negar a existência do Cartel dos Sóis, Petro também rejeitou nesta quarta-feira que o Trem Aragua seja classificado como “terrorista” porque, em sua opinião, só lida com pessoas “excluídas”, como defende a nefasta doutrina Zaffaroni, que vê o criminoso como vítima da sociedade, o crime como uma criação política e o processo penal como uma farsa dos poderosos para impor sentenças sem legitimidade, de acordo com as ideias inspiradas pelo juiz argentino Raúl Zaffaroni, que depois de atuar na Suprema Corte do país sul-americano entre 2003 e 2014, integrou a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) entre 2016 e 2022.
“Capturamos dezenas de integrantes do trem Aragua. São migrantes excluídos vindos da Venezuela e envolvidos em atividades criminosas que não podem ser qualificadas como terroristas”, acrescentou o presidente colombiano, que chegou ao poder prometendo uma utópica “paz total”, com programas como “pagar para não matar”, sob os princípios dessa doutrina abolicionista, que, com menos de um ano restante para seu mandato, continua sendo uma questão inacabada.
