O presidente da “mudança”, economista com experiência como senador, prefeito de Bogotá e guerrilheiro, tem hoje um apoio de 30% e um histórico de funcionários questionados. O mais polêmico: seu ministro do Interior, Armando Benedetti, agora seu braço direito, investigado por maus-tratos e assédio.
Bogotá, 5 de agosto (EFE) – O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, entra esta semana em seu último ano de mandato com um duplo desafio: cumprir as promessas que ainda pesam sobre ele e reparar o legado do primeiro governo de esquerda do país, manchado pela constante rotatividade de ministros, uso desenfreado do X e escândalos de corrupção.
Esses são os pontos-chave de sua passagem pela Casa de Nariño, o palácio presidencial que Petro considera ostentoso e do qual, segundo ele disse recentemente: “sairei correndo e gritarei de alegria como uma criança saindo da escola” em 7 de agosto de 2026.


1. Uma fórmula quebrada
Há três anos, Petro canalizou as aspirações populares de setores historicamente marginalizados, reforçadas pela figura de Francia Márquez, símbolo da luta ambiental, da liderança social e da identidade afro-colombiana. Juntos, conquistaram mais de 11 milhões de votos e prometeram uma transformação profunda.
Hoje, essa promessa está se desfazendo. A relação entre Petro e Márquez está tensa, e o entusiasmo inicial de sua base foi diluído por contradições e decisões difíceis de justificar.
O presidente da “mudança”, um economista com experiência como senador, prefeito de Bogotá e guerrilheiro, conta atualmente com 30% de apoio e um histórico de autoridades questionáveis. A mais controversa: seu ministro do Interior, Armando Benedetti, agora seu braço direito, sob investigação por maus-tratos e assédio.
E a imagem de Márquez, outrora um pilar do partido, desbotou. Em 20 de julho, os dois chegaram separadamente ao Congresso, consolidando uma rixa que já era um segredo aberto. Nos últimos seis meses, a vice-presidente perdeu seu partido e foi destituída do Ministério da Igualdade, agora chefiado por um ex-ator pornô.
Petro não a perdoou por aludir a uma possível chantagem de Benedetti durante uma reunião de gabinete televisionada em fevereiro passado, e o relacionamento já tenso acabou.
Há duas semanas, Márquez quebrou o silêncio com uma farpa: “Passei de heroína a traidora”, disse ela, denunciando que seu corpo de “mulher negra” foi “instrumentalizado e descartado”.
“Eles nos querem na foto, mas não na tomada de decisões”, acrescentou. E o presidente nunca respondeu.
2. Mais de 50 ministros
Desde que assumiu o cargo, Petro tentou acionar as principais alavancas do poder: um acordo nacional, uma assembleia constituinte e consultas populares. Nenhuma delas se concretizou, e não há vestígios da sua prometida “paz total”.
Seu primeiro gabinete combinou tecnocratas e figuras centristas, mas nem eles nem os partidários do petrismo funcionaram. Hoje, o poder executivo está nas mãos de figuras como Benedetti e Alfredo Saade, um líder evangélico responsável pela Presidência.
A instabilidade tem sido a norma: mais de 50 ministros serviram em seu governo, alguns por apenas meses, e a falta de experiência de vários deles tem dificultado a implementação de políticas públicas.
Antigos aliados agora o criticam, incluindo o ex-ministro das Relações Exteriores Álvaro Leyva , que o acusa de ser incapaz de governar devido a um suposto vício em drogas.
3. Reformas: avanços e retrocessos
Petro tentou transformar o aparato institucional da Colômbia com mais de 50 reformas. Algumas foram implementadas durante seu primeiro ano, quando ele detinha maioria legislativa, mas a coalizão governante se fragmentou em 2023 após uma polêmica reforma do sistema de saúde.
Sua estratégia de avançar com reformas minimamente ajustadas entrou em choque com uma oposição relutante em modificar questões estruturais. Mas ele recentemente conquistou vitórias importantes: aprovou a reforma da Previdência, que fortalece o sistema público e cria um pilar de solidariedade; e a reforma trabalhista, que melhora o pagamento de férias e exige que as plataformas paguem contribuições para seus entregadores.
O quarto ano legislativo, no entanto, promete ser uma batalha árdua. Com a campanha eleitoral se aproximando, os congressistas priorizarão seus próprios projetos para apresentar aos eleitores, enquanto o governo buscará acelerar suas iniciativas mais recentes, sem maioria garantida: a reforma da saúde, uma lei para coibir quadrilhas criminosas e um projeto de lei para reduzir as tarifas de energia.
4. Manchado pela corrupção
Uma promessa traída foi o combate à corrupção. O “Governo da Mudança” caiu nas mesmas práticas que alegava erradicar, atingindo até mesmo o círculo mais próximo do presidente.
Seu filho mais velho, Nicolás Petro, está sendo julgado por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito por supostamente receber fundos irregulares de um ex-traficante de drogas durante a campanha presidencial.
Em seu discurso do Dia da Independência de 2023, Petro pediu desculpas ao país por nomear Olmedo López como diretor da Unidade Nacional de Gestão de Riscos (UNGRD), a entidade no centro do maior escândalo de corrupção de seu governo.
Este ano, ele evitou o assunto, apesar de um de seus ex-ministros da Fazenda estar sendo investigado neste caso e seu ex-diretor administrativo, Carlos Ramón González, ter um mandado de prisão.
5. Diplomacia por meio do Twitter
Na política externa, as relações com os Estados Unidos, principal parceiro comercial da Colômbia, estão no seu momento mais tenso desde janeiro. A primeira crise eclodiu apenas uma semana após o retorno de Donald Trump à Casa Branca, quando Petro bloqueou a chegada de voos com deportados, denunciando tratamento indigno.
A segunda foi em julho, quando Petro repetiu uma declaração de Nicolás Maduro sobre um suposto “golpe de Estado” orquestrado pelo Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Rubio convocou com urgência o chefe da missão diplomática em Bogotá, e Petro fez o mesmo com seu embaixador em Washington.
Muitas dessas tensões surgiram no X, a rede que Petro usa como plataforma para compartilhar suas opiniões, muitas vezes incompletas ou com erros de ortografia, revelando impulsividade em vez de estratégia.
Outro foco importante de sua agenda internacional tem sido a condenação do genocídio em Gaza. Ele rompeu relações com Israel e assinou um decreto proibindo a exportação de carvão colombiano para aquele país, alegando que ele é usado para fabricar bombas “que matam crianças palestinas”.