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Petro ameaça uma revolta social se suas reformas não forem submetidas a um referendo

Após provocar um confronto com o Congresso devido a um revés em seu projeto de reforma trabalhista na Sétima Comissão do Senado, o presidente colombiano convocou um referendo para tentar aprovar suas polêmicas reformas, pulando trâmites legislativos, mas também ameaçando o país com “violência” caso os congressistas coloquem obstáculos em seu caminho.

Não é segredo para ninguém que Gustavo Petro se tornou presidente da Colômbia graças à vantagem política que tirou da greve nacional que se transformou em uma “explosão social” convocada pela esquerda sob sua liderança contra a reforma tributária do então presidente Iván Duque. Hoje, da Casa de Nariño, Petro pretende agitar as ruas relembrando o caos que o país viveu há quatro anos como forma de pressionar o Congresso diante do revés que sua reforma trabalhista sofreu nesta terça-feira na Sétima Comissão do Senado, onde oito dos 14 membros desse órgão assinaram um relatório para arquivar o projeto de lei, que estava a um passo do colapso. Mas, ignorando o jogo democrático de contrabalançar os poderes, Petro convocou uma consulta popular para a aprovação das reformas que têm sido o carro-chefe de sua administração, ameaçando o país com violência caso essa proposta seja interrompida no legislativo.

“O referendo é obrigatório depois de passar pelo plenário do Senado. Isso leva até três meses e o Senado tem um mês para decidir. Peço aos partidos políticos que não prestem atenção ao rico Epulón, mas, conforme determina a Constituição, ao interesse geral da sociedade colombiana. Se a participação do povo colombiano for negada, eles estarão literalmente negando a paz”, disse Gustavo Petro em um discurso na noite de terça-feira, no qual ele lembrou em mais de uma ocasião o surto social de 2021.

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Acompanhado por seu gabinete – já em campanha com faixas onde se lia “#Simàsreformas sociais” – o líder colombiano conclamou seus seguidores a saírem às ruas para pressionar o Congresso. “Convido o povo a se mobilizar, os indígenas às ruas, os camponeses às ruas”, gritou Petro antes de convocar um referendo, explicando que cabe ao Senado, em seu plenário, decidir sobre o assunto em uma única votação dentro de um mês. “O presidente da Colômbia apresentará a convocação de uma consulta popular para reformas sociais, que implicam em justiça social na Colômbia”, anunciou Petro após ter questionado em suas redes sociais o órgão parlamentar que tomou uma decisão contrária aos seus desígnios, já prevendo que haverá violência caso sua vontade não seja cumprida.

“A maioria da Comissão VII traiu o povo trabalhador da Colômbia. Procuraremos fazer com que a decisão seja revertida, mas a decepção só nos leva à violência. Que o povo trabalhador da Colômbia saiba quem foi que o traiu”, escreveu o chefe de Estado colombiano em sua conta no X, acrescentando que ‘com essa atitude da maioria da Comissão VII, eles rompem o diálogo entre o Congresso da Colômbia e o governo da mudança’.

Choque entre poderes

Desencadeando um claro confronto com o Congresso e relembrando o caos gerado pela greve de quatro anos atrás, Gustavo Petro  
acrescentou em sua conta no X que na Colômbia “há uma ditadura de um establishment que quer zombar do voto popular e da explosão social de 2022 (2021). É por isso que eles estão desencadeando o bloqueio institucional à mudança. Diante da ditadura do establishment que recusou um acordo nacional, a resposta é a democracia real. A democracia é o poder do povo. O presidente convoca o povo e está com o poder do povo.

A luta pelo poder é evidente. A reação do chefe do executivo gerou uma resposta contundente do presidente do Senado, Efraín Cepeda, que anunciou que levaria ao conhecimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) as acusações feitas pelo presidente Gustavo Petro contra um grupo de senadores por terem assinado o arquivamento da reforma trabalhista.

“O presidente Petro está colocando um obstáculo na roda da democracia colombiana ao querer desencadear a violência contra o Congresso, que tomou uma decisão autônoma sobre a reforma trabalhista. Recorreremos à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para proteger os senadores do Sétimo Comitê e suas famílias”, advertiu o chefe da câmara alta, que também descreveu como ‘inadmissível’ que o presidente incite a violência contra o legislativo pela decisão tomada pelos legisladores ‘no exercício de seus poderes constitucionais’.

Efraín Cepeda foi ainda mais enfático em sua resposta a Gustavo Petro: “O senhor está enganado se pensa que o Congresso da República vai se deixar encurralar ou se submeter aos seus caprichos. O Congresso representa o povo e também se baseia em eleições democráticas; você não é o único que tem razão no país”.

Desmantelando a inconveniente reforma trabalhista

A reforma trabalhista gerou grande preocupação de que poderia destruir até 449.000 empregos, de acordo com um relatório do Banco da República citado pela congressista Katherine Miranda, que inicialmente apoiou Petro, mas agora o lembra que seu projeto de reforma trabalhista “não reduziria a informalidade e, em vez disso, aumentaria os custos trabalhistas em pelo menos 16%”.

Miranda também alertou que essa iniciativa do governo “pune empresas, afasta investimentos e condena trabalhadores à precarização do trabalho”. A antiga aliada de Petro o desafiou diretamente em sua conta no X: “ Isso é justiça social? Esta é uma sentença de desemprego e informalidade para milhares de colombianos. Governar não é improvisar (…) Parem de vender fumaça e assumam a responsabilidade antes de arruinar mais empregos na Colômbia.”

Sindicatos de Petro apelam à mobilização

No entanto, Gustavo Petro decidiu se precipitar sem sequer ouvir seus antigos colaboradores, convocando um referendo, ameaçando uma revolta social se suas reformas não forem submetidas a essa iniciativa. Considerando que apenas as reformas tributária e previdenciária foram aprovadas, a reforma da saúde ainda está em discussão, a reforma educacional não foi aprovada e hoje a reforma trabalhista está à beira do colapso no Senado.

Para os protestos de rua, Petro conta com agitadores experientes, como dirigentes sindicais, que, por meio da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), já convocam uma “grande mobilização” no dia 18 de março “pelos direitos trabalhistas dos colombianos”.

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