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Paulistas e o futebol contra Getúlio Vargas

Nos últimos dias o eterno candidato à presidência da República Ciro Gomes declarou que Getúlio Vargas foi o maior presidente da história do Brasil.

Como não poderia ser diferente, a fala dividiu opiniões e virou trend no twitter brasileiro.

Getúlio Vargas é um personagem que sucinta amor e ódio há décadas no Brasil, a esquerda que brada por democracia adiciona uma aura divina ao homem que subiu à presidência através de um golpe – assunto que podemos tratar em ocasião futura – e após alguns anos instituiu-se como ditador através de uma false flag em 1937, oportunidade onde tentou acabar com o orgulho regional dos estados da federação brasileira promovendo a queima de suas bandeiras em praça pública, fato ocorrido no dia 27 de novembro de 1937.

Paulistas e o rancor a Getúlio Vargas

No dia 27 de abril de 1940, foi inaugurado o estádio municipal Paulo Machado de Carvalho, o charmoso e cartão postal estádio do Pacaembú. Para a solenidade de inauguração, foi promovido um torneio início, que reuniu diversos esportistas argentinos, uruguaios e peruanos, além de atletas de Coritiba, Portuguesa, Ypiranga, Juventus, Paulistano, Esperia, Corinthians, Germânia e Palestra Itália, dentre outros.

Cerimonia de inauguração do estádio do Pacaembu

Cada delegação que entrava no gramado era ovacionada por suas torcidas, principalmente o Palestra Itália – atual Palmeiras – e a Sport Club Corinthians Paulista à época as maiores torcidas da cidade.

No entanto, por conta da revolução constitucionalista de 1932 (tema que pretendo tratar no próximo feriado paulistano) várias feridas ficaram expostas entre o povo Paulistano e o chefe do executivo nacional e já nesta época ditador. Quando a delegação do São Paulo Futebol Clube adentrou ao gramado o estádio veio abaixo, o clube trazia em seu uniforme as cores da bandeira do estado, que a esta altura já era um artefato proibido e considerado criminoso.

A multidão em peso se levantou aplaudindo e gritando entusiasticamente: – São Paulo, São Paulo, São Paulo! – apontando para a tribuna de honra, onde estava o presidente Getúlio Vargas.

Delegação do SPFC ovacionada pela multidão em protesto a Getúlio Vargas

O Jornal Folha da Manhã do dia seguinte também registrou o fato:

“O público esportivo propriamente dito demonstrou quanto é querido o S. Paulo F.C., pois, ainda que apresentasse pequena turma, recebeu calorosas palmas, sendo o nome ovacionado deliberadamente”.

O diário A Gazeta foi além e estampou:

“O Clube Mais Querido da Cidade”

Frase impressa ao lado da foto da delegação tricolor, com placa e bandeira do São Paulo. O mesmo se deu no Diário da Noite, de 30 de abril.

O fato curioso e chancela popular

Fato curioso é que esta alcunha teria sido o comentário do próprio Gétulio Vargas aos seus pares ali presente, ao constatar a aclamação popular para à comitiva são paulina:

– “Ao visto, este é o clube mais querido da cidade”.

Não é possível saber se Getúlio Vargas fez-se de bobo ou foi ingênuo (o que dúvido muito), mas a afirmação espalhou mais rápido do que notícia ruim.

Nos dias deguintes o DEIP (Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda) promoveu concurso público aberto a todos os torcedores, para saber qual era o clube mais querido da cidade. Os favoritos eram Corinthians e Palestra Itália, com torcidas mais numerosas do que a do São Paulo FC na época. Porém, o resultado final do concurso (finalizado no dia 7 de maio) foi uma surpresa geral:

Assim foi oficializado: O São Paulo Futebol Clube é o Mais Querido da Cidade! Com direito a troféu e tudo mais. Em 1941, o Tricolor Paulista tornou oficial: esse slogan até hoje figura nos impressos e correspondências oficiais do clube paulista.

Bibliografia:

Conrado Giacomini, Dentre os Grandes, És o Primeiro

Orlando Duarte e Mario Vilela, São Paulo Fc – o Super Campeão

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