O debate gira em torno de se o Brasil deve enfrentar os Estados Unidos ou negociar com eles. De fato, o presidente da Argentina, Javier Milei, já negociou um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, tornando seu país o primeiro da América do Sul a estabelecer essa relação com o governo Trump II. Lula adotará uma postura semelhante à de Xi Jinping?

Espanhol.—  A recente imposição de tarifas no Brasil reacendeu o debate sobre a relação com o império do norte, considerando o interesse nacional. Até que ponto existe uma relação de igualdade entre os dois países ou, ao contrário, uma relação de vassalagem para com o norte? O que realmente define o interesse nacional?
O presidente Donald Trump impôs uma tarifa de 10% sobre os produtos importados do Brasil. Em resposta, o presidente Lula Da Silva afirmou que “protegeria” o país dessa medida. Essa situação gerou preocupações, especialmente considerando que a desaprovação de Lula atingiu um recorde histórico de 56%, o nível mais alto durante todos os seus mandatos. Esse descontentamento se deve principalmente à sua gestão em relação à política de “proteção” diante do aumento do custo de vida e da crescente insegurança no país.

Atualmente, o Brasil não adota tarifas específicas para nenhum país em particular, seguindo uma norma da Organização Mundial do Comércio (OMC) que proíbe discriminação ou benefícios a qualquer membro do bloco por meio de tarifas. Nesse contexto, o Congresso brasileiro aprovou uma Lei de Reciprocidade Econômica, que permite ao governo atuar de maneira soberana em relação à OMC, estabelecendo que as represálias brasileiras devem ser, “sempre que possível”, proporcionais ao impacto econômico causado pelas medidas unilaterais de outros países ou blocos. Agora, espera-se que a lei seja sancionada pelo presidente da República.

Por outro lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro lembrou que, durante o primeiro mandato de Trump, conseguiu revogar a medida tarifária contra a importação de aço, de forma exclusiva para o Brasil, enquanto as restrições continuaram válidas para outros países. “Com essa decisão, os EUA deixaram de cobrar taxas adicionais de até 46% na importação de aço laminado a frio, o que fortaleceu ainda mais a siderurgia brasileira, que já exportava mais de 7 bilhões de dólares e agora tinha melhores condições para prosperar”, explicou Bolsonaro.

Bolsonaro, assim como o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, diante da recente crise dos deportados, se ofereceu para receber os produtores de aço e reverter a atual imposição de tarifas.

Assim, o debate gira em torno de se o Brasil deve enfrentar os Estados Unidos ou negociar com eles. De fato, o presidente da Argentina, Javier Milei, já negociou um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, tornando seu país o primeiro da América do Sul a estabelecer essa relação com o governo Trump II. Lula adotará uma postura semelhante à de Xi Jinping?

Além dos aspectos econômicos, o interesse nacional do Brasil também está relacionado à sua posição frente à Amazônia. Não foi a iniciativa do corredor triplo A promovida com fundos da USAID? Quantas bases militares de outros impérios estão presentes nos países da América do Sul ao redor do Brasil? Por que ao norte do Rio Amazonas não se desenvolvem políticas para esses territórios? O Brasil é a zona de retaguarda da Aliança do Atlântico Norte? A posição do Brasil sobre a disputa do Esequibo entre a Venezuela e a Guiana é a mesma dos Estados Unidos?

O senador Flávio Bolsonaro, presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, aprovou uma audiência pública sobre a atuação da USAID em território brasileiro, a pedido do senador Eduardo Girão. Foi convidado a participar Michael Benz, ex-funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que sugeriu que a USAID interferiu nas últimas eleições presidenciais do Brasil. O objetivo da audiência é esclarecer a transferência de cerca de 44,8 milhões de dólares (aproximadamente 267 milhões de reais) para ONGs brasileiras entre 2023 e 2024. Segundo o senador Girão, o financiamento a essas organizações pode afetar a soberania nacional.

Essa audiência e outras iniciativas abrem a possibilidade de que surja na classe política brasileira uma tendência para a construção de um debate em defesa da nação, o que seria crucial para definir o que constitui ou não o interesse nacional. Isso, sem que esse debate precise partir da agenda de um império ou outro, mas sim do coração do império da América do Sul.