Se o Parlamento não apresentar esta semana um plano de ação claro, baseado na unidade e em objetivos definidos, corre-se o risco de o regime ganhar tempo e aproveitar esta conjuntura para se fortalecer eleitoralmente, mantendo o centro político sob sua influência.
O domingo, 3 de agosto, foi um dia de mobilização massiva nas principais cidades do Brasil. Essa jornada ganha relevância especial em um contexto marcado pela perseguição política e pela censura, impulsionadas pela judicialização da política a partir do Poder Judiciário, que já conta com seu primeiro sancionado pela Lei Magnitsky norte-americana: Alexandre de Moraes.
Estive presente em duas manifestações nesse dia: pela manhã, na cidade de Campinas; e à tarde, na emblemática Avenida Paulista. A diversidade dos manifestantes era notável: homens e mulheres de todas as idades e classes sociais. Todos vestiam as cores verde e amarela, símbolo do orgulho nacional. O amor à pátria se fazia sentir no ambiente, com um espírito familiar carregado de indignação diante da situação atual.
O povo brasileiro está cansado do abuso de poder exercido em Brasília, tanto pelo Executivo quanto pelo Judiciário. Mas também está exausto com a falta de resultados do Legislativo, que se considera de mãos atadas em vários aspectos para agir diante dessa crise institucional.


Em meio às sanções dos Estados Unidos e suas exceções sobre produtos brasileiros, cresce a incerteza sobre o futuro do país. No seio da oposição, o debate se divide entre duas grandes posições: de um lado, os que acreditam que não importa mais prejudicar a economia, já que o PT a destruiu, e que é necessário resistir um pouco mais para alcançar a queda do regime; de outro, os que consideram que danificar ainda mais a economia apenas favorece o próprio regime que está desmontando o país.
No entanto, todos concordam em repudiar a existência injusta de presos políticos e o sofrimento causado às suas famílias. As histórias são repletas de crueldades, vítimas e até mortes sob responsabilidade do Poder Judiciário. O auge dessa indignação foi a imposição de uma tornozeleira eletrônica ao ex-presidente Jair Bolsonaro, líder indiscutível da oposição, em uma clara tentativa de humilhá-lo e preparar o terreno para sua prisão.
Nesta semana começam os trabalhos legislativos, e a oposição prometeu impulsionar uma lei de anistia geral e o processo de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. A massiva mobilização popular não apenas elevou o ânimo da oposição, como também enviou um recado ao centro político, convidando-o a se somar a uma agenda comum. A expectativa é que essa pressão aumente a tensão interna, justamente quando entra em vigor um novo aumento tarifário, e enquanto o regime lança sua campanha de “defesa da soberania” contra o deputado Eduardo Bolsonaro e o jornalista Paulo Figueiredo, ambos exilados nos Estados Unidos por motivos de perseguição política.
A oposição, se conseguir manter-se unida diante da coesão do regime, poderá conquistar algumas vitórias locais. Mas surgem várias perguntas: quais seriam essas vitórias se, por ora, não se alcança uma anistia geral? É possível, ao menos, libertar os maiores de 70 anos condenados a mais de dez anos de prisão? O que dizer das donas de casa usadas como bodes expiatórios? Poderia ser discutido o caso do deputado Daniel Silveira, preso há mais de cinco anos e enfrentando sérios problemas de saúde, à beira de perder uma perna? Já não é hora de discutir o encerramento do Inquérito das fake news, utilizado como principal ferramenta de perseguição política por crimes de opinião?
Por enquanto, o regime só encontra incentivos para seguir radicalizando-se, consolidar seu núcleo de poder e ampliar sua capacidade de negociação para não ceder em nada que não lhe convém. Se o Parlamento não apresentar nesta semana um plano de ação claro, baseado na unidade e em objetivos definidos, cresce o risco de que o regime ganhe tempo e aproveite essa conjuntura para se fortalecer eleitoralmente, mantendo o centro político sob sua influência.
Em um mundo onde os polos de poder global estão se reconfigurando, um Brasil enfraquecido é funcional para aquelas potências que buscam controlar o Atlântico Sul. No entanto, um Brasil fragilizado não pode ser, nem hoje nem nunca, o interesse de seu povo.
O povo brasileiro quer viver em paz, sem precisar fugir do país, sem medo de pensar ou expressar livremente suas ideias. Quer viver do próprio trabalho, que seu salário tenha poder de compra, e não suporta uma carga tributária sufocante destinada a bancar os excessos de uma classe política desconectada da realidade.
Mas, acima de tudo, o povo brasileiro rejeita viver sob o autoritarismo de qualquer força política. O Brasil é uma nação de homens e mulheres que prezam pela liberdade e não estão dispostos a serem oprimidos por nenhum poder, seja ele interno ou externo. A história já mostrou, em diversas ocasiões, o que acontece quando se leva o povo brasileiro ao seu limite.