O Prêmio Nobel de 2025 é visto como uma espécie de “impulso simbólico” que “acende a chama da mudança” em um país desgastado e arruinado.
Há algumas semanas, testemunhamos um evento que ganhou manchetes em todo o mundo e provocou indignação tanto nas Américas quanto na Europa: o Comitê Norueguês do Prêmio Nobel da Paz concedeu o prestigioso prêmio à ativista, líder e política venezuelana María Corina Machado por sua “luta incansável pelos direitos democráticos do povo venezuelano e seu compromisso com uma transição pacífica para a democracia”. Mais do que um prêmio, trata-se do reconhecimento e da visibilidade concedidos a anos de trabalho para alcançar o retorno da democracia na Venezuela. Isso solidificou uma plataforma de luta que ressoa onde quer que os venezuelanos estejam presentes no mundo, demonstrando que somos mais do que os estereótipos negativos que frequentemente nos são atribuídos.
O reconhecimento reafirma que os instrumentos da democracia são também os instrumentos da paz. Portanto, esta decisão pode ser interpretada como uma mensagem geopolítica: que “a luta pacífica pela liberdade continua sendo o caminho legítimo para a democracia”. Esta importante condecoração consolida ainda mais seu status como um símbolo internacional de resistência cívica contra a repressão autoritária e mesquinha que nega a liberdade ao seu povo, e serve como um “espelho” que lembra à comunidade internacional que ela “continua a observar aqueles que restringem e combatem a liberdade”.


Ao saber da notícia, Machado dedicou-a a “todos os venezuelanos” e considerou-a “uma conquista para toda a sociedade”. A atribuição do Prêmio Nobel da Paz a Machado eleva a luta democrática venezuelana ao mais alto nível de atenção da mídia global, transformando-a em uma questão que o regime não pode mais ignorar ou encobrir facilmente.
O desafio da hipocrisia regional não passou despercebido. No México, a presidente Sheinbaum, apesar de seu compromisso com a luta feminista, simplesmente se recusou a comentar; um silêncio ainda mais notório do que a resposta irada de Petro na Colômbia, que parabenizou Machado, ainda que com sua característica acidez, e na mesma mensagem pediu que ela ajudasse a “iniciar conversas para um amplo diálogo político” e a instou a explicar por que buscou ajuda de um “criminoso contra a humanidade, com mandado de prisão internacional” (referindo-se a um líder israelense) em 2018 para levar a democracia à Venezuela. Outros políticos, como a ex-prefeita de Bogotá, Claudia López, criticaram Petro por evitar condenar Nicolás Maduro e por não reconhecer a existência de uma ditadura na Venezuela. Vale lembrar que ambos os líderes são de esquerda. Além da região, o presidente russo, Vladimir Putin, chegou a declarar que esse prêmio às vezes é concedido a pessoas que nada fizeram pela paz.
Organizações feministas e aquelas que defendem o empoderamento das mulheres em todas as esferas têm mantido um silêncio ensurdecedor a respeito dessa distinção, reafirmando que as conquistas só são reconhecidas se a mulher compartilhar sua ideologia de extrema esquerda, negando a uma líder uma plataforma simplesmente por ser uma dissidente política. Isso expõe a natureza seletiva e sectária de sua luta e daqueles que a estão por trás, revelando com força irrefutável a motivação sectária, odiosa, discriminatória e, em última análise, egoísta, que oscila conforme a balança do ganho político aponta para a próxima “causa midiática” a ser organizada. A mensagem é clara: a defesa dos direitos humanos e da democracia deve ser universal, não seletiva ou contingente à ideologia política dos oprimidos.
O Prêmio Nobel de 2025 é visto como uma espécie de “impulso simbólico” que “acende a chama da mudança” em um país desgastado e arruinado, por vezes sem esperança devido à sua qualidade de vida em declínio, e que perdeu aproximadamente 7,7 milhões de habitantes, desencadeando um êxodo sem precedentes; perdendo uma força de trabalho qualificada que ajuda a fortalecer outros países com o desejo de retornar para reconstruir e servir aos seus. Portanto, os desafios que ele apresenta para a superação do autoritarismo, de acordo com o contexto atual, incluem:
- Transformar o prestígio em uma ferramenta coletiva: Existe o risco de tensões internas na oposição se a liderança de Machado for percebida como “excessivamente pessoal”. O desafio é transformar o prestígio do laureado com o Prêmio Nobel em uma “ferramenta coletiva, não em uma bandeira individual”.
- Restauração da liberdade política e do Estado de Direito: A chave principal é “manter o foco no essencial: a restauração da liberdade política e do Estado de Direito na Venezuela”, a libertação dos presos políticos e o estabelecimento de um roteiro que permita uma transição ordenada e cívica que garanta a recuperação do fio condutor democrático.
- Mobilização e Pressão: O reconhecimento pode servir como um “catalisador para a mobilização cidadã”, um “incentivo moral para a oposição a Maduro” e uma “pressão diplomática sobre as potências que ainda mantêm contatos com o chavismo”.
Do ponto de vista da região, a liderança de Machado impulsiona os seguintes eventos:
- Um golpe duro e inesperado contra a “tirania cubana”: Machado declarou que “Uma Venezuela libertada representará um golpe, para mim, letal, contra a tirania cubana”.
- Isolamento do regime: A premiação intensifica a percepção de que “Maduro está isolado e seus dias estão contados”, pois poucos arriscarão sua credibilidade para apoiar um regime tão frágil.
- Fortalecimento dos países aliados: A líder da oposição destacou sua amizade e respeito pelo presidente argentino Javier Milei, afirmando que ambos os países devem “se fortalecer mutuamente diante de uma futura transição democrática”.
- Compromisso das organizações regionais: A Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) felicitou Machado e reafirmou seu “compromisso com os valores que promovem a paz por meio do diálogo e da cooperação na Ibero-América”.
Esse cenário, impulsionado pelo Prêmio Nobel da Paz, cria uma situação inescapável para os países da região, que precisam definir uma posição clara, tornando difícil manter uma postura ambígua ou continuar negociando “como de costume” com Caracas.
A mensagem para a diáspora abrange vários pontos-chave, servindo sobretudo como um incentivo moral e um apelo à ação. O prêmio é um reconhecimento retumbante da luta e do sofrimento daqueles que testemunharam e foram vítimas da crise, e um reconhecimento da resistência civil que documentou os crimes do regime. Finalmente, este reconhecimento internacional convoca à mobilização e ao ativismo globais. A diáspora recebe uma espécie de mandato moral para demonstrar com mais veemência seu ativismo nos países onde reside, pressionando seus governos a se manterem firmes contra Caracas e a apoiarem um roteiro democrático para a oposição. A esperança se renova: “Estamos no limiar da vitória.”