Embora as políticas de imigração de Donald Trump tenham reduzido a porcentagem de venezuelanos que planejam ir para os Estados Unidos de 27 para 11, a intenção de emigrar não desapareceu, mas apenas foi repensada para destinos como Espanha, Brasil e Colômbia. Um número alarmante de 40% dos jovens com menos de 30 anos expressou sua intenção de deixar a Venezuela, de acordo com uma pesquisa realizada em janeiro pela Poder & Estratégia.

O sonho americano não é mais um sonho para os venezuelanos que desejam emigrar. Chegar aos Estados Unidos para começar uma vida longe do regime de Nicolás Maduro é uma intenção que vem caindo drasticamente nos últimos meses. Isso é revelado na mais recente pesquisa de opinião da consultoria Poder & Estrategia, na qual a Espanha, o Brasil e a Colômbia são posicionados como alternativas para os venezuelanos, uma alta porcentagem dos quais continua a ver o êxodo como a única maneira de alcançar um futuro melhor.

Conheça a nova obra de Paulo Henrique Araújo:Foro de São Paulo e a Pátria Grande, prefaciada pelo Ex-chanceler Ernesto Araújo. Compreenda como a criação, atuação e evolução do Foro de São Paulo tem impulsionado a ideia revolucionária da Pátria Grande, o projeto de um bloco geopolítico que visa a unificação da América Latina.

Os números da pesquisa confirmam a mudança. Nos estudos de setembro e novembro, 27% dos entrevistados disseram que pretendiam ir para os Estados Unidos, mas o número caiu para 11% em janeiro, tendo em vista as mudanças na política de imigração com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, que até conseguiu que a ditadura recebesse deportados. Mas isso não se traduz em resignação. A intenção de fugir permanece, mas agora muitos estão repensando seu destino. E o fato é que, ao mesmo tempo em que a intenção de emigrar para os EUA está caindo, a porcentagem dos que querem se estabelecer em países como Espanha, Brasil e Colômbia está aumentando.

No caso do país europeu, o interesse tem crescido consecutivamente nos estudos da Poder & Estrategia, começando com 18% em setembro, subindo para 24% em novembro e chegando a 26% em janeiro. A tendência com o Brasil é semelhante, aumentando de 11% para 12% e depois para 16% nas mesmas comparações.

“Os Estados Unidos caíram como principal destino e a Espanha, o Brasil e a Colômbia estão emergindo com força”, diz Ricardo Ríos, presidente da consultoria, ao publicar as tendências na rede social X. Sua interpretação tem mais interpretações.

Cumplicidade com consequências 

É fato que a intenção dos venezuelanos de emigrar para os EUA está diminuindo, mas nem os obstáculos à migração nem a escassez econômica os estão paralisando. Pelo contrário, eles estão motivados a repensar seus planos. De fato, 18% dos entrevistados expressaram sua vontade de deixar a Venezuela, uma intenção que chega a alarmantes 40% no caso de jovens com menos de 30 anos.

A debandada em direção à Espanha, ao Brasil e à Colômbia, em substituição aos Estados Unidos, representa um desafio para os governos de esquerda dessas três nações, cuja aliança histórica com o regime chavista e sua posição ambígua diante da fraude de 28 de julho não os poupará de arcar com o ônus de uma nova onda de migração, inicialmente provocada pelo fracasso das políticas socialistas e exacerbada pela consolidação de um regime autoritário que decidiu roubar eleições e manter o poder pela força.

Obstáculos na Colômbia

Sem a possibilidade de entrar irregularmente nos EUA com as novas políticas de imigração de Donald Trump, cruzar a fronteira para se estabelecer na Colômbia também é uma intenção que permanece entre uma porcentagem significativa de venezuelanos. Embora os 13% que expressaram em setembro sua disposição de partir para o país vizinho tenham caído para 10% em novembro, a pesquisa de janeiro recuperou os três pontos perdidos.

Embora o plano de se mudar para Bogotá, Cali, Medellín, Santa Marta ou talvez Pereira pareça mais provável de se concretizar, dada a proximidade territorial, é preciso levar em conta que a regularização dos migrantes venezuelanos na Colômbia está no limbo após o fechamento dos 77 Pontos Visíveis que permitiam o processamento da Permissão de Proteção Temporária (PPT) sob o Estatuto de Proteção Temporária para Migrantes Venezuelanos (ETPV).

O funcionamento dos postos de atendimento onde se realizava a pesquisa socioeconômica, coletava-se os dados biométricos dos solicitantes e entregava-se o documento em 28 dos 32 departamentos do país cessou devido ao congelamento dos recursos de cooperação internacional pelos Estados Unidos que facilitavam o financiamento dessa estratégia implementada desde 2022 em colaboração com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), no âmbito do Programa de Estabilização Comunitária da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). A incerteza reina entre os venezuelanos que residem em Bogotá, onde há 66.000 PPTs em processo e outros 122.000 interessados em regularizar sua situação.