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Allan Ouverney

O Marxismo Cultural: reflexões sobre o livro A Escola de Frankfurt e o início da nova esquerda

“No fim das contas, o neoesquerdismo quer virar a humanidade do avesso numa proporção tal que o próprio Marx, diante da ousadia de suas propostas, recuaria horrorizado” — Olavo de Carvalho

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A imagem da esquerda continua vinculada à do socialismo ortodoxo que os EUA combateram na guerra fria, o qual aparecia nas telas figuras como Lenin e Stálin numa imponência escorada na gigantesca força estatal. Esse socialismo praticamente não existe no ocidente, foi rechaçado, o resíduo desse modelo está em Cuba e na Venezuela. Não quer dizer que ele não seja uma ameaça, pois existem movimentos que querem o desenvolvimento dessa forma de Marxismo, mas desse mal o ocidente está mais consciente.

O que nos aflige é a nova esquerda, aquela que começou em um “think tank” na Alemanha na década de 20 e colheu seus frutos a partir da década de 60. Os revolucionários da Escola de Frankfurt são verdadeiros obstinados, foram mais de 40 anos desenvolvendo uma ideologia que hoje é hegemônica nas paisagens do sol poente.

Esse empreendimento é uma nova abordagem criada pela casta intelectual ocidental e se infiltrou no meio acadêmico, chegando até os meios de comunicação que, no início do século XX, estavam em acelerado desenvolvimento. A grande sacada (se possível for usar esse termo para coisa tão ruim) foi a reflexão que os homens de Frankfurt fizeram em vista do fracasso do Marxismo estilo Stálin em se infiltrar no ocidente. Observando que o agente revolucionário não era o proletariado, ou seja, a classe trabalhadora que prosperava financeiramente com o sistema liberal americano, perceberam, também, que a força física e toda a sua demonstração de poder não era a melhor estratégia. Precisavam, portanto, de novos peões para seus joguinhos e de uma nova abordagem, um método mais sútil, que deixasse as movimentações com aparência inofensiva.

Dessa forma, o Marxismo deixou de ser representado por homens barbudos com feições fechadas, uniformes militares laureados de medalhas e fortemente armados com seus tanques, mísseis e uma tropa de soldados que parece um mar de gente pronta para matar quem quer que seja. Essa nova esquerda não tem um rosto, não tem representante formal; os precursores dessa diabólica ideologia agem nas sombras, usam ternos e gravatas e não constituem nenhuma ameaça física.

Mas as mudanças não se restringiram aos aspectos estéticos dos seus representantes. O giro radical e decisivo é na cultura. Os intelectuais da Escola Alemã notaram a urgência de destruir o binômio cristianismo-família para alcançarem os objetivos. Surgem, então, várias correntes de pensamento que convergem para esse mesmo propósito geral, e atuam em vários campos do conhecimento.

Na filosofia, investiram na chamada teoria crítica, que consiste em criticar tudo sem nada propor, apenas desacreditar, relativizar e desconstruir toda uma estrutura de valores e tradição milenar, atingindo diretamente o seu âmago: a família e o cristianismo. O objetivo da teoria crítica era, conforme muito bem pontua Iturralde (2022), “‘livrar a humanidade de velhas verdades’ entre as quais estavam incluídas não só a religião, a tradição, os valores e a moral cristã, mas também verdades ou realidades estabelecidas pela razão”.

Do mesmo modo, forte investida ocorreu contra o 6º Mandamento de Deus (não pecar contra a castidade) com o veneno da liberação sexual freudo-marxista a partir de vários desdobramentos, desde o feminismo até ideias sobre gêneros. A falsa premissa de que os males do ocidente residem na opressão cristã em relação ao sexo causou profunda rachadura no modo de ver as coisas, o casamento foi assimilado como uma forma de aprisionar as mulheres e os filhos tornaram-se incompatíveis com a vida moderna. Muitos foram os golpes contra a família. O slogan “faça amor não faça guerra” ecoou em todos os lares, promovidos pelas universidades, televisão e rádios. A questão do sexo talvez seja o modo mais efetivo de retirar a humanidade do caminho da elevação espiritual, ancorando em patamares mais baixos da condição humana. É uma escravidão pelos sentidos que prende a vida às sensações do corpo.

Montados os esquemas mentais alienantes, a ação prática passa a ser executada pela massa revolucionária, que já não era mais a dos trabalhadores, mas sim a dos ditos “marginalizados” e os jovens, estes últimos escolhidos por serem os mais dóceis a qualquer tipo de manipulação. Eles obedeceram prontamente ao chamado após o fermento da contracultura:

O intelectual burguês e o lumpemproletariado constituíram-se como os novos revolucionários […] foram muitos setores burgueses – geralmente de classe média, financiados pelos grandes capitais e corporações – os que tomaram a rua e as instituições: estudantes, feministas, descontentes existenciais, marginais e contestadores vários, libertinos sexuais etc. Um exemplo paradigmático disso, nesse sentido, é Maio de 1968… (Iturralde, 2022, p. 46)

Depois de cem anos de contracultura, Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e companhia, fortemente financiados por globalistas e governos, solaparam as bases morais do ocidente. Pensar conforme determinam os intelectuais de Frankfurt é a nova ordem, a liberação sexual passa a ser ensinada desde os primeiros anos da escola e a descrença em tudo e o deboche aos valores cristãos são sinais de “elevada erudição”.

O Marxismo Cultural, enquanto movimento, é um desconhecido do imaginário popular, essa nova esquerda não tem dono nem representante formal, mas infiltrou-se em várias áreas e já destruiu muito do que havia de bom. Poucos são os que ousam denunciá-lo. O ocidental marcha orgulhoso com seus novos estandartes.

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