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Morte em Dorian Gray

Não há nada mais humano do que temer a morte. Por isso, os homens sempre sonharam com a possibilidade de vencê-la. A literatura, inclusive, explorou, várias vezes, esse tema, como em “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde.

O romance retrata a história de um jovem que, ao contemplar sua própria imagem em um quadro, apaixona-se por ela, de tal maneira, que deseja que sua beleza ali retratada nunca mais lhe abandone. E, inexplicavelmente, seu pedido é-lhe concedido. A partir daquele dia, não mais envelhece, mantendo sua formosura intacta — um encanto inalterável que passa a ser sua dádiva e sua maldição.

Mantendo-se fisicamente jovem, belo e cheio de energia, deleitava a todos com sua vivacidade e graça que não se apagavam. Permanecendo sexualmente atraente, após anos, ainda era capaz de conquistar mesmo gente bem mais jovem. Com sua mocidade preservada, manteve-se com um fulgor incansável, o que o fez buscar uma vida de prazeres e dispêndios. Dorian, então, foi acumulando experiências extremas e, com isso, muitos erros. Amontoou desvios, mentiras e toda sorte de crimes.

O acúmulo de transgressões tornou a vida de Dorian insuportável. Sua alma, a despeito de seu corpo juvenil, corroía-se. Os excessos lhe proporcionavam enfado e cansaço que, sem a perspectiva da morte, se transformaram numa verdadeira maldição.

Além disso, os contemporâneos de Dorian envelheciam e morriam e a nova geração era-lhe estranha, pois não compartilhava de sua forma de ver o mundo. Tornou-se então um solitário.

O romance de Wilde, na verdade, dá-nos uma outra perspectiva da morte. Passamos a vê-la não mais como um termo, mas como delimitadora do nosso lugar no tempo, identificando-nos e moldando o nosso caráter; também como solvedora dos nossos débitos, cessando com o desconforto que nos causa o acúmulo de infrações.

A obra nos ensina que, sem a morte, viveríamos como zumbis, vagando por aí com o insuportável peso dos nossos pecados, e nos faz entender que sua chegada, no tempo certo, está longe de ser uma perda, mas se configura uma solução, no mínimo, evitando que sejamos corroídos pelos nossos erros, como a vida de Dorian Gray e seu quadro desnudado no fim do livro nos mostram.

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