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Jesus: apenas um rabino rigorista?

A situação interna que se vive na Igreja atualmente é tão difícil, que a preocupação quanto ao que pode ainda acontecer chegou já aos mais altos níveis da hierarquia católica. Não é errado observar que há uma evolução da nossa compreensão do dogma quando tentamos compreender mais e melhor a Revelação, quando tentamos perscrutar sinais e significados até então escondidos em tudo o que Jesus anunciou sobre a Terra, mas outra coisa muito diferente é a traição e manipulação desse dogma, dos ensinamentos de Cristo, buscando todo tipo de justificativas para teorias e comportamentos que se desviam da verdadeira fé.

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Essa teologia desviada com a qual temos convivido ultimamente, e que nas últimas décadas até mesmo goza de certo prestígio entre o clero e o episcopado católico quer convencer-nos de que a fé não é mais que uma experiência, de que a fé não precisa ter um conteúdo intelectual. O aspecto da experiência pessoal com Deus é muitíssimo importante, mas não se pode relativizar nem negar o fato de que a fé católica tem, sim, um conteúdo doutrinal, ideias e de princípios reunidos no depositum fidei (depósito da fé), ou seja, o corpo da verdade revelada nas Escrituras e na Sagrada Tradição da Igreja Católica. Se não compartilhamos da mesma crença no conteúdo desse depósito da fé, já não somos mais católicos! É preciso unidade, sobretudo quando se trata de responder àquela pergunta feita pelo próprio Cristo: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15).

Também tem sido uma verdadeira batalha impedir que nossos irmãos na fé deixem-se levar pela mentira de que tanto faz ser católico, ou protestante, ou budista, ou muçulmano, ou espírita, ou não se dizer pertencente a nenhuma das religiões tradicionais, ou até mesmo ser ateu. Prega-se que há um senso religioso comum a todos os povos, e que isso é a fé, e é só o que importa, deixando-se de lado a essência do cristianismo, a certeza de que em Jesus Cristo está a plenitude da Revelação. Agir assim é renunciar à verdade, é assassinar a fé, é trilhar um caminho equivocado com a ilusão de que por ele se vai alcançar a paz entre as religiões do mundo. Quer-se disseminar a ideia de que não há uma história da salvação (Israel – Jesus – Igreja), nem uma revelação cristã específica, dando a entender que tudo o que é sobrenatural é falso (desde as profecias do Antigo Testamento até os milagres e as revelações particulares dos últimos séculos, passando pela encarnação do Verbo, em Jesus de Nazaré). Para os falsos teólogos da modernidade, Jesus não é o Filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas apenas um homem extraordinário, uma testemunha autorizada da vontade salvífica de Deus, e não o Redentor da Humanidade. Quando se perde a fé, ou concebe-se a fé como uma simples relação abstrata com um deus que vive à margem do mundo e que não se interessa por nós, a primeira verdade que se joga fora é a da Encarnação de Nosso Senhor e, portanto, a da Salvação que nos é dada por Jesus Cristo. É essa a estrutura que se está propondo atualmente como um novo cristianismo, com o advento de uma nova Igreja, a fim de nivelar os ensinamentos de Jesus aos de criaturas como Maomé, Confúcio, Gandhi, ou Allan Kardec.

Ao final do passado mês de Agosto, no dia 20, publicou-se no site italiano de notícias “Il Fatto Quotidiano” (https://www.ilfattoquotidiano.it/in-edicola/articoli/2023/08/20/semi-della-rivoluzione-gesu-loda-la-grande-fede-di-una-donna-pagana/7266175/) um comentário ao Evangelho (Mt 15,21-28) do Padre Jesuíta Antonio Spadaro, teólogo italiano e editor da revista La Civiltà Cattolica, em que o mesmo qualifica Jesus, em seu diálogo com uma mulher cananeia, como irritado, insensível, duro, com modos zombeteiros e desrespeitosos, cego pelo nacionalismo e pelo rigorismo teológico, aprisionado pela rigidez de elementos teológicos, políticos e culturais dominantes no seu tempo. Esse comentário do Pe. Spadaro assemelha-se muito ao que fariam teólogos como Hermann Samuel Reimarus, Gotthold Ephraim Lessing, Friedrich Schleiermacher, Ferdinand Christian Baur, ou David Friedrich Strauss. Esses autores identificavam-se com uma mesma corrente teológica, de muito êxito e de muita influência no final do século XIX e mesmo no início do século XX, chamada “teologia liberal”. Tais autores, advindos sobretudo do seio protestante alemão, tinham como objetivo tornar a fé cristã compatível com o mundo moderno, e dedicaram-se a destruir tudo o que pudesse supor um dogma, e a eliminar tudo aquilo que tivesse algum caráter sobrenatural, como por exemplo, os milagres, ou a noção da divindade de Jesus de Nazaré. Para eles, portanto, os Evangelhos não tinham rigor histórico, eram mitológicos, o que impedia o acesso à figura autêntica do Jesus, que, segundo eles, não foi mais do que um rabino judeu moralizante que foi posteriormente deificado por São Paulo, o qual teria sido, este sim, o verdadeiro fundador do cristianismo. Essa corrente de pensamento blasfema – porque nega a divindade de Jesus Cristo – está atualmente impregnada em setores do interior da Igreja Católica, onde se percebe claramente uma tentativa de “maquiar” a mensagem de Jesus, a fim de que ela possa ser palatável e atraente para o mundo, eliminando tudo aquilo que incomoda o pensamento do homem contemporâneo, já totalmente afeiçoado ao relativismo e ao hedonismo. O objetivo de muitos e muitos eclesiásticos hoje é “adaptar a Igreja ao mundo”. A estes, incomoda Jesus Cristo, incomoda o Jesus histórico, incomodam os Evangelhos. Então, o que dizem é que Jesus foi influenciado culturalmente por sua época. Não matam Jesus, como os teólogos liberais, que dizem que o mesmo não existiu. Dizem que os ensinamentos de Jesus estão contaminados pela cultura e pelos costumes de sua época e que, sendo assim, não precisam ser escutados nem seguidos, nem tampouco tomados em grau de dogma, porque não é um ensinamento que vem de Deus, mas de uma espécie de rigorismo judeu.

Afirmar que Aquele que morreu na cruz não é o Redentor, ou que Ele talvez nem tenha existido historicamente, é encaixar-se na descrição que faz São Paulo dos infiéis, em uma de suas cartas: “De fato, vai chegar um tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina e se cercarão de mestres conforme seus desejos, quando sentem coceira no ouvido e, desviando ou ouvido da verdade, voltam para as fábulas” (2 Tm 4,3-4).

É preciso ter muito cuidado com os falsos profetas, que abundam por todos os lados, apregoando a urgência de modernizar a Igreja, porque, nos últimos 60 anos, foi feito um enorme esforço evangelizador, um incansável trabalho pastoral; tentou-se de todas as maneiras abrir o coração dos católicos à ideia pós-conciliar do aggiornamento (=atualização), e, ainda assim, o número de nossos fiéis diminuiu em 40%. Na Alemanha, pregoeira da modernidade religiosa, meio milhão de católicos, em 2022, deixaram a Igreja. Até o ano de 1960, éramos, no Brasil, 94% de católicos, e atualmente não ultrapassamos a marca de 49% da população. Algo está errado, e o erro está numa equivocada noção de Igreja, numa falsa, perniciosa e diabólica eclesiologia, e na total descrença de que Jesus é o Cristo, de que Jesus é Deus feito homem.

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