Os Estados Unidos passaram de receber 7,1 milhões de barris de petróleo venezuelano em novembro para 9,2 milhões em dezembro, de acordo com os últimos dados da EIA divulgados nesta sexta-feira. Esses números podem despencar assim que for efetivada a revogação da licença da Chevron, anunciada pelo governo de Donald Trump.
A notícia sobre o cancelamento da licença concedida pelo governo anterior dos EUA à petroleira Chevron para operar na Venezuela não veio sozinha. As ameaças de Nicolás Maduro foram precedidas por um inevitável aumento dos preços do petróleo, que registraram um crescimento superior a 2% no caso do Brent do Mar do Norte. Enquanto isso, os números de importação mostram que, pelo menos até dezembro, antes da posse de Donald Trump, os Estados Unidos vinham aumentando a compra de petróleo da Venezuela.
A Administração de Informação Energética dos EUA (EIA, na sigla em inglês) revelou nesta sexta-feira que a potência norte-americana recebeu em dezembro 9,2 milhões de barris de petróleo da Venezuela, o que representa um aumento de 23% em relação ao mês anterior, quando o volume foi de 7,1 milhões. O crescimento foi ainda mais significativo na comparação anual, passando de um total de 48,3 milhões de barris em 2023 para 84,8 milhões ao final de 2024, um aumento de 43%.
Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, surgiram desde o primeiro dia sinais de que ele retomaria a postura rígida de seu governo anterior contra a ditadura venezuelana. Na última quarta-feira, foi anunciado o que Maduro mais temia: Trump rejeitou sua tentativa de apaziguar a situação. Maduro havia tentado ganhar tempo com Trump, oferecendo colaboração na política migratória e enviando aviões da companhia estatal Conviasa para facilitar a deportação de venezuelanos indocumentados nos Estados Unidos. No entanto, o governo Trump deu o passo de cancelar a licença concedida pela administração anterior de Joe Biden à Chevron em novembro de 2022, que permitia a empresa produzir e comercializar petróleo na Venezuela.
Um novo acordo entre Chevron e PDVSA?
De acordo com fontes citadas pela mídia americana, o cancelamento da licença da Chevron pode abrir espaço para um novo acordo entre a empresa e a estatal venezuelana PDVSA, visando a exportação de petróleo para outros destinos que não os Estados Unidos. Nos últimos dois anos, os EUA vinham aumentando progressivamente a compra de petróleo da Venezuela devido ao alívio das sanções promovido pelo governo Biden. Essa flexibilização beneficiou não apenas a Chevron, mas também outras companhias como a espanhola Repsol, a italiana Eni e a francesa Maurel & Prom. Isso contrastou com as severas sanções impostas por Trump em seu primeiro mandato, que congelaram as negociações petrolíferas entre Washington e Caracas entre julho de 2019 e dezembro de 2022.
Apesar da aparente aproximação entre Trump e Maduro há algumas semanas – quando o enviado especial da Casa Branca, Richard Grenell, visitou o ditador venezuelano no Palácio de Miraflores para negociar a libertação de seis cidadãos americanos presos na Venezuela e formalizar um acordo para que o regime chavista recebesse deportados –, Trump decidiu revogar a licença da Chevron. Segundo ele, Maduro não cumpriu os acordos eleitorais firmados e não garantiu o retorno dos “criminosos violentos” à Venezuela no ritmo combinado.
O impacto da revogação da licença da Chevron
A decisão de Trump também pode ter sido influenciada por seu secretário de Estado, Marco Rubio, que, ao contrário de Grenell, defende uma postura mais rígida contra as ditaduras da região, incluindo o regime de Maduro na Venezuela. “Estou orientando nossa política externa para encerrar todo o apoio do Departamento de Estado às licenças de petróleo e gás aprovadas sob a administração Biden, que vergonhosamente financiaram o regime ilegítimo de Maduro”, publicou Rubio na quarta-feira em sua conta no X.
Today, pursuant to @POTUS directive, I am providing foreign policy guidance to terminate all Biden-era oil and gas licenses that have shamefully bankrolled the illegitimate Maduro regime.
— Secretary Marco Rubio (@SecRubio) February 27, 2025
A Chevron vinha contribuindo com cerca de 200.000 barris de petróleo por dia para a produção total da Venezuela, que gira em torno de um milhão de barris. Se as sanções serão eficazes para pressionar o regime chavista, essa é outra questão. A experiência durante o primeiro governo de Trump mostrou que Maduro conseguiu sobreviver buscando apoio em mercados asiáticos, com a ajuda de aliados de Caracas, como os regimes da Rússia, China e Irã.