Juanita Goebertus, diretora da Divisão das Américas da Human Rights Watch (HRW), alertou que El Salvador “está seguindo o mesmo caminho da Venezuela”. Enquanto isso, a oposição salvadorenha alertou que “a democracia está morta”.
San Salvador, 31 de julho (EFE).- A Assembleia Legislativa de El Salvador, dominada pelo partido Nuevas Ideas (NI), do presidente Nayib Bukele, aprovou nesta quinta-feira uma reforma constitucional que permite a reeleição presidencial por tempo indeterminado, eliminando as proibições.
A iniciativa, que foi aprovada sem renúncia processual e sem revisão legislativa, recebeu 57 votos do partido governista e seus aliados para reformar os artigos 75, 80, 133, 152 e 154 da Constituição salvadorenha, que até agora proibiam a reeleição imediata.
As reformas incluem estender o mandato presidencial para seis anos, eliminar o segundo turno nas eleições presidenciais e encurtar o mandato atual para 2027 em vez de 2029, para se alinhar com as eleições legislativas e municipais daquele ano.
Em fevereiro de 2024, durante as eleições presidenciais em que foi reeleito, o presidente Bukele foi questionado se via necessidade de uma reforma constitucional que incluísse reeleição indefinida, e ele respondeu: “Não acho que a reforma constitucional seja necessária”.


“A democracia morreu em El Salvador.”
“É urgente e inadiável sincronizar os tempos eleitorais, estendendo o mandato presidencial para seis anos, combinado com a reeleição incondicional”, diz o decreto, que foi votado e rejeitado pela oposição, que destacou que com essa reforma “a democracia morreu em El Salvador”.
Outro argumento apresentado pelos deputados do NI é “evitar campanhas eleitorais constantes e seus altos custos associados” reduzindo a frequência das eleições.
No artigo 80, a nova redação elimina a suspensão dos direitos civis para aqueles que buscam a reeleição, enquanto no artigo 152, remove o trecho que afirma que “quem tiver exercido o cargo de Presidente da República por mais de seis meses, consecutivos ou não, durante o mandato imediatamente anterior, ou nos últimos seis meses anteriores ao início do mandato presidencial” não pode ser candidato à Presidência da República.
A deputada Marcela Villatoro, da oposição Aliança Republicana Nacionalista (Arena), criticou a reforma, dizendo que os legisladores “fizeram uma confissão pública de matar a democracia disfarçada de legalidade” e que “mataram a Constituição”.
Ele pediu que eles parassem de “se disfarçar de populares e romantizar ditaduras”, e ressaltou que “eles estão se autonomeando eleitores e mudando o significado da Constituição” sem ter esse poder.
Por sua vez, Claudia Ortiz, do partido de oposição VAMOS, disse que os legisladores do partido governista “estão mentindo para fazer as pessoas acreditarem que esta reforma visa devolver o poder ao povo”.
“Está claro que essas reformas que vocês estão promovendo são um plano que vocês têm em mente há muito tempo, e que elas não visam dar poder ao povo, mas sim manter o poder para vocês mesmos, para que seu partido permaneça no poder para sempre”, disse ele.
Bukele iniciou seu segundo mandato consecutivo em 1º de junho de 2024 , apesar de vários artigos da Constituição proibirem isso, após uma mudança de critério pela Câmara Constitucional da Suprema Corte, que foi a primeira Legislatura dominada pela Irlanda do Norte em 2021, nomeada em um processo contestado.
HRW: “No mesmo caminho da Venezuela”
Juanita Goebertus, diretora da Divisão das Américas da Human Rights Watch (HRW), disse na quinta-feira que o partido Nuevas Ideas (NI) do presidente salvadorenho Nayib Bukele “está seguindo o mesmo caminho da Venezuela” ao pressionar por uma reforma constitucional que permita a reeleição presidencial por tempo indeterminado.
“O partido de Bukele está pressionando por uma reforma constitucional expressa para permitir a reeleição presidencial por tempo indeterminado”, publicou ela no X Goebertus.
El Salvador🇸🇻| El partido de Bukele impulsa una reforma constitucional exprés para permitir la reelección presidencial indefinida.
— Juanita Goebertus (@JuanitaGoe) August 1, 2025
Están recorriendo el mismo camino que Venezuela. Empieza con un líder que usa su popularidad para concentrar poder, y termina en dictadura. pic.twitter.com/52AKaNZXfx
Ela acrescentou: “Eles estão seguindo o mesmo caminho da Venezuela. Começa com um líder que usa sua popularidade para concentrar poder e termina com uma ditadura.”
“Historicamente, a reeleição foi permitida em El Salvador para quase todos os cargos eletivos, sem restrições ou condições específicas”, e “a única exceção até agora foi a Presidência”, disse a deputada Ana Figueroa, do Partido Nacionalista (NI), ao apresentar a iniciativa.
Ela acrescentou que os salvadorenhos “terão o poder de decidir por quanto tempo desejam apoiar o trabalho de qualquer autoridade pública, incluindo seu presidente”.
O deputado Francisco Lira, da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), questionou a iniciativa, apresentada sem discussão prévia e sem qualquer procedimento de votação, e a considerou inconstitucional.
“Foi assim que (Alberto) Fujimori e (Hugo) Chávez começaram”, enfatizou Lira, lembrando que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) decidiu que a reeleição por tempo indeterminado é contrária aos princípios da democracia.