Surge aqui uma questão válida: quais são as consequências dessa atitude antipolítica?
No final de setembro, durante um almoço em família, um dos meus sobrinhos me perguntou: “O que você acha que vai acontecer depois das eleições de outubro?” A mãe dele o interrompeu imediatamente, dizendo: “Não falamos de política à mesa. Não incomode seu tio”. Como acredito firmemente na autonomia familiar, optei por não contradizer minha prima.
Episódios como o descrito acima são mais comuns do que parecem. Não se limitam exclusivamente a eventos familiares, mas são quase universais, inclusive em círculos acadêmicos. No entanto, essa atitude antipolítica é muito perigosa, pois deixa as nações indefesas contra aqueles que desejam usar a política para concentrar poder — aventureiros inescrupulosos, como diria o grande Friedrich Hayek.
O professor de Relações Internacionais, Angelo Codevilla (+), em seu livro: O caráter das nações, explica que as Ciências Sociais partem de duas premissas opostas: uma da ideia de Rousseau sobre a bondade natural do homem; outras assumem a versão oposta, na qual se diz que o homem é mau por natureza, logo, sua capacidade de fazer o mal deve ser limitada.
As consequências são diretas: se acreditarmos na bondade inerente da humanidade, não imporemos limites nem barreiras ao poder. Contudo, se tivermos certeza de que a humanidade é capaz de cometer os atos mais desprezíveis, então, logicamente, limitaremos o exercício do poder por todos os mecanismos possíveis.
Codevilla conclui que a antipolítica é um resultado direto da adoção da tese de Rousseau, já que, se meus líderes são bons, não faz sentido me preocupar com o que eles fazem.
No entanto, a realidade nos lembra que os seres humanos são capazes das maiores atrocidades e que ignorar isso traz consequências terríveis. Vejamos:
No início do novo milênio, Bolívia e Chile estavam próximos no ranking de liberdade econômica da Heritage Foundation. Tragicamente, em outubro de 2003, a Bolívia sofreu um golpe de Estado e, com ele, ingressou no sistema criminoso do socialismo do século XXI.
Triste foi o destino daqueles de nós que anunciamos o caminho que estávamos trilhando com a Agenda de Outubro e nossa submissão à ditadura cubana. Ainda me lembro de um professor de Direito Internacional me dizendo, quando eu cursava minha segunda graduação: “Vocês não superaram a Guerra Fria. Ainda estão vendo mortos-vivos”, ou do ridículo a que um grupo de amigos e eu fomos submetidos em nosso programa de TV. Anos depois, entendi que as universidades são rousseaunianas; por isso são a grande fábrica de socialistas do mundo. Mas esse é um assunto para outro artigo.
Agora o país enfrenta mais de 60% de pobreza, escassez de combustível, falta de dólares, inflação de dois dígitos e completa ausência de instituições democráticas. Nossas famílias e nossos bens foram dizimados durante duas décadas de castro-chavismo.
Hoje o perigo é maior; chama-se globalismo. É um projeto que não visa apenas controlar os seres humanos, mas redesenhá-los segundo uma visão imposta por uma elite plutocrática. A este respeito, Agustín Laje, no seu livro Globalismo, explica:
A antropologia subjacente à Agenda 2030 é aquela em que o homem não tem família. A figura do pai não aparece nenhuma vez, nem nos objetivos, nem nas metas, nem na resolução. A figura do filho ou da filha também não. A palavra “mãe” é usada apenas uma vez, mas para se referir à “Mãe Terra”. Quanto à palavra “família”, ela aparece apenas uma vez em um contexto de pouca importância, e seu derivado “familiar” aparece duas vezes como “planejamento familiar”. Em suma, o homem da Agenda 2030 não tem família, não tem pátria nem Deus; assim, carece de uma identidade forte, da qual possam surgir energias políticas e morais, além de uma vontade férrea de autodeterminação.
Agora você entende que, mesmo que não se envolva na política, ela ainda interferirá em sua família, seus bens e até mesmo em sua cama. Superar o sentimento antipolítico é o primeiro passo para termos nações livres.
Artigo de Hugo Marcelo Balderrama.
