Rafael Gámez Salas, vulgo “el Turko”, censurou o fato de que a equipe encarregada de sequestrar e matar o ex-militar Ronald Ojeda “fez coisas erradas”, razão pela qual todos os participantes tiveram que deixar o Chile, sob as instruções de Carlos Gómez Moreno, vulgo “Bobby”, que foi preso em dezembro na Colômbia.
A facção do Tren de Aragua que sequestrou e assassinou o ex-militar venezuelano Ronald Ojeda em Santiago do Chile, há um ano, duvidou de sua eficiência ao cometer o crime ordenado de Caracas pelo número dois do chavismo, Diosdado Cabello, que hoje ocupa o cargo de Ministro do Interior do regime de Nicolás Maduro.
De acordo com os depoimentos colhidos das sete testemunhas confidenciais da Promotoria Metropolitana Sul e da Equipe de Crime Organizado e Homicídios (ECOH), liderada por Héctor Barros, os criminosos foram, até o último momento, dominados pela desconfiança sobre o sucesso da operação contra o tenente.
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Os sujeitos acharam “altamente complexo” agir com o traje da Polícia de Investigação (PDI) para retirar Ojeda de sua residência, localizada no bairro Independência, sem levantar suspeitas. Até então, eles reconheceram que agiriam “às cegas” e assim o fizeram.
No entanto, a falta de cuidado na mobilização, depois de exigir a transferência de um veículo por falta de gasolina e de ser capturado por diferentes câmeras de segurança, forçou-os a reconhecer falhas na “ordem” de Miraflores, segundo o La Tercera.
Sepultura à vista
Erros assombram o crime de Ojeda, cujo corpo foi encontrado escondido em uma mala sob uma laje de concreto. Faltou cautela ao Tren de Aragua. Isso é confirmado pelo depoimento da “Testemunha Confidencial No. 1”, que afirmou que quatro membros da organização criminosa construíram uma cabana marrom, enquanto ele carregava materiais como paletes, baldes de terra e até cavou um buraco, sem qualquer precaução.
De fato, essa mesma pessoa também afirmou que dois indivíduos prepararam uma mistura de cimento apenas para evitar o trânsito. “Percebi que havia um cheiro estranho”, disse ele. Em relação a esse local de encontro, a “Testemunha Confidencial nº 4” deu os nomes daqueles que tinham o controle criminoso da apreensão, enquanto a “Testemunha Confidencial nº 2” relatou uma série de apelidos dos supostos envolvidos.
A testemunha nº 3, por sua vez, reconheceu algumas fotos dos suspeitos mencionados e, embora tenha dito que não sabia de mais detalhes, afirmou que, após o crime de Ojeda, dois homens “não foram mais vistos no setor” onde o soldado foi encontrado com sinais de tortura.
Fuga das trilhas: “Eles fizeram coisas erradas”
Devido aos rastros deixados por suas ações, os membros do Tren de Aragua que participaram do crime decidiram fugir do Chile.
Outra testemunha confidencial citada pelo La Tercera indica que os envolvidos realizaram uma reunião no assentamento Santa Marta – onde o corpo de Ojeda foi encontrado – algum tempo depois de assassiná-lo. Nessa reunião, o líder da quadrilha, Rafael Gámez Salas, vulgo ‘el Turko’, censurou o fato de que “eles haviam feito coisas erradas”, razão pela qual todos os que haviam participado do sequestro do soldado tiveram que deixar o país do sul sob as instruções de Carlos Gómez Moreno, vulgo ‘Bobby’, que foi preso em dezembro na Colômbia.
No andamento da investigação e na coleta de testemunhas, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, é acusado de instruir e pagar “Niño Guerrero”, o principal líder da gangue, pelo assassinato de Ojeda. No entanto, em seu próprio depoimento, a testemunha afirmou que nenhum dos envolvidos recebeu o pagamento devido pelo crime. “Deduzo que o dinheiro foi deixado nas mãos de pessoas mais altas”, disse ele.
O bate-papo incriminador
As testemunhas confidenciais no caso de Ojeda também reconhecem que ouviram terceiros descreverem e discutirem a execução do ex-militar venezuelano. Nesse sentido, afirmam que leram mensagens de um grupo do WhatsApp onde esses detalhes foram compartilhados.
A “Testemunha Confidencial nº 7” admite que conhecia alguns dos executores do ex-tenente e até mesmo acessou conversas em que ‘El Turko’, que foi preso há uma semana nos Estados Unidos, comentou que ‘Bobby’ lhe confiou sua “confiança para fazer um trabalho, e que aparentemente era bastante complicado e tinha que ser feito vestido como um PDI, e é por isso que através deste grupo várias funções foram entregues”.
Testemunhas com medo
As identidades das pessoas que fornecem detalhes sobre o crime de Ojeda são secretas. O grupo de “colaboradores efetivos” teme represálias da organização por colaborar com as investigações. Esse temor tem fundamento, considerando o assassinato da venezuelana MGMG depois que ela revelou três assassinatos do Tren de Aragua na região de BíoBío sob a condição de testemunha confidencial.
A mulher, de apenas 19 anos de idade, foi baleada várias vezes em março do ano passado em uma rua do município de Ovalle, a poucos metros do Tribunal de Garantias, depois de fornecer informações decisivas sobre o assassinato de Woldy Decimies, Alexis Raúl Evaristo Patiño e Aaron Nicolás Valenzuela Flores, cujos corpos foram encontrados espalhados entre os municípios de Florida, Hualpén e San Pedro de la Paz.
O antecedente do destino das testemunhas protegidas angustia as novas peças que tornam possível desvendar o que aconteceu com Ojeda. Até o momento, parece que nenhuma delas se conhece, mas sabe-se que cada uma delas possui informações sobre as etapas do crime vinculado ao regime de Nicolás Maduro.