Considere a gravidade deste assunto. A corrupção é tão disseminada que o suborno é necessário até mesmo para as tarefas mais simples. Por exemplo, entregar uma ação judicial à outra parte em um julgamento.
No início do século XXI, todos os países latino-americanos, em geral, e a Bolívia em particular, viveram episódios trágicos, quando grupos violentos tomaram as ruas e rodovias com um único lema: mudança.
O ataque às nossas nações ocorreu em pelo menos três frentes:
- A criação de uma narrativa que retratou presidentes como Gonzalo Sánchez de Lozada e Jamil Mahuad como chefes de governos opressores que discriminam os pobres.
- Subversão e violência extrema disfarçadas de protestos sociais.
- A manipulação de informações por operadores de mídias sociais.
A experiência revela como movimentos aparentemente progressistas são, na realidade, interesses egoístas de bandidos que exploram o caos, a retórica emancipatória e o fervor popular para consolidar o poder, enriquecer ou implementar novas formas de opressão. Por exemplo, Fidel Castro, Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales. Sejamos honestos, seria preciso muita ingenuidade para continuar pensando que os ditadores do socialismo do século XXI são políticos.
Além disso, as ditaduras trouxeram consigo diversas pragas apocalípticas: pobreza, insegurança, desinvestimento e corrupção. Por exemplo, o Projeto Justiça Mundial (WJP), uma organização internacional cuja missão é promover o Estado de Direito, determinou que nosso país ocupa a última posição entre 32 países da região, enquanto globalmente ocupa a 141ª posição entre 142 nações avaliadas. Em outras palavras, somos o país mais corrupto da América Latina e o segundo mais corrupto do mundo.
A metodologia do relatório utiliza oito fatores de mensuração, mas o de maior peso no caso da Bolívia é o relacionado à administração da justiça. O exame avalia se juízes e funcionários judiciais se abstêm de solicitar e aceitar propina para cumprir suas funções ou agilizar processos, e se o Judiciário e suas decisões estão livres de influência indevida do governo, de interesses privados e de organizações criminosas.
Ele também examina se policiais e investigadores criminais se abstêm de solicitar e aceitar subornos para realizar serviços policiais básicos ou investigar crimes, e se funcionários do governo na polícia e nas forças armadas estão livres de influência indevida de interesses privados ou organizações criminosas.
Por fim, ele mede se os membros do legislativo se abstêm de solicitar ou aceitar subornos ou outros incentivos em troca de favores políticos ou votos favoráveis à legislação.
O WJP explica que este fator avalia a eficácia do sistema de justiça criminal de um país, considerando que se trata de um mecanismo para tratar de queixas e processar indivíduos por crimes contra a sociedade. Com resultados tão fracos, qualquer explicação é desnecessária.
Pense na gravidade deste assunto: a corrupção é tão generalizada que propina é necessária até para as coisas mais simples. Por exemplo, entregar uma queixa à outra parte em um julgamento. Isso mesmo, se o funcionário judicial não receber a sua “afeição”, é impossível para ele realizar algo tão básico quanto o seu trabalho, pelo qual os bolivianos lhe pagam um salário. Aliás, aqueles de nós que tiveram a má experiência de litigar em processos judiciais sempre recebem o mesmo conselho: “tudo se faz com dinheiro”.
Concluindo, a única oferta real, crível e necessária é desmantelar todo o sistema de leis infames e mecanismos de corrupção que ameaçam as vidas, as propriedades e a liberdade dos bolivianos, já que todo o resto cai em ouvidos moucos, até mesmo as boas intenções de obter dólares em poucas semanas.
Texto de Hugo Marcelo Balderrama.