“A esta nova oposição, eu, como eles sabem, estendo minhas mãos para o diálogo pelo país, para virar a página de tantos capítulos horríveis”, disse Nicolás Maduro nesta quarta-feira em meio à comemoração por ter conseguido mais uma vez ganhar tempo e se agarrar ao poder com as duas últimas farsas eleitorais após a fraude cometida nas eleições presidenciais.

Um ano depois das eleições presidenciais em que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a serviço do chavismo, declarou Nicolás Maduro vencedor, sem qualquer apuração, publicação de apurações ou auditorias, o regime comemora ter realizado outra farsa eleitoral no último domingo, com a qual não só buscou legitimar o sequestro de espaços políticos, mas também construir uma suposta “nova oposição” à sua medida, com figuras completamente irrelevantes e que nem merecem menção.

Este último circo se soma ao espetáculo do último dia 25 de maio, quando os venezuelanos foram convocados para participar de supostas eleições regionais e parlamentares. Quem “ganhou” é o que menos importa. A oposição, liderada por María Corina Machado e Edmundo González, que derrotou Maduro nas urnas em 28 de julho de 2024, não participou por razões mais do que óbvias, exceto por alguns partidos minoritários e líderes inescrupulosos que vivem como parasitas políticos e se contentam em coabitar com uma ditadura em troca de preservar uma pequena fatia de poder.

Alguns, como Henrique Capriles, tiveram sucesso. Outros, porém, tiveram o efeito contrário, como foi o caso do ex-governador do estado de Zulia, Manuel Rosales. O resto são apenas números: 20 deputados, um governador e 50 prefeitos que se dizem opositores, mas decidiram permanecer em silêncio e parar de se manifestar contra a fraude flagrante cometida nas eleições presidenciais.

A “nova oposição” de Maduro

Esta é a “nova oposição” à qual Nicolás Maduro estende hoje a mão para ajudá-lo a “virar a página”, como afirmou nesta quarta-feira em transmissão no canal estatal Televisão Venezuelana (VTV). “A esta nova oposição, eu, como eles sabem, estendo minhas mãos para o diálogo pelo país, para virar a página de tantos capítulos horríveis, de golpes de Estado, pedidos de bloqueios, sanções, assassinatos, apelos à intervenção militar estrangeira, emboscadas contra os sublimes objetivos do país”, disse ele em meio à celebração de ter conseguido, mais uma vez, ganhar tempo e se agarrar ao poder.

Agora, Maduro dá o próximo passo, repetindo a fórmula que o falecido Hugo Chávez também aplicou durante anos, criando oficialmente esta “nova oposição”, um movimento que só o ajuda a virar a página: a fraude cometida em 28 de julho, que o ditador quer apagar. E se falamos de “diálogos”, até agora houve mais de uma dúzia de negociações que serviram apenas para reorganizar o regime e intensificar a repressão e a perseguição à verdadeira oposição. A lista de violações por parte da delegação do partido no poder é longa. A última experiência desse tipo foi o Acordo de Barbados, que a ditadura violou à vontade.

Alcançado esse objetivo, Maduro agora insta essa “nova oposição” a “trabalhar em conjunto pelos vizinhos”. A oposição receberá recursos em seus respectivos gabinetes, desde que não causem transtornos ao regime. O próximo passo será escolher e promover a imagem de um suposto “novo líder” dessa “oposição”, que permitirá à ditadura tentar apresentar uma aparência de normalidade democrática. Não surpreendentemente, o chefe de campanha chavista, Jorge Rodríguez, afirmou que “um novo diálogo” surgiu com um setor da oposição que, enfatizou, é o que “tem os votos”. Ele também descreveu a coalizão liderada por María Corina Machado e Edmundo González como um “fantasma” na tentativa de afastar a verdadeira oposição que os derrotou há um ano e os deixou expostos ao mundo, forçando-os a cometer a fraude mais flagrante e descarada.