“Pressão” e “chantagem” aparecem na declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China diante da nova ameaça do presidente dos Estados Unidos. Agora, além das idas e vindas tarifárias, o contexto aponta para um agravamento das tensões entre as duas potências mundiais.
O aumento das tarifas contra a China por parte dos Estados Unidos intensifica a rivalidade entre as duas nações. Donald Trump reassumiu a Presidência com a promessa de solucionar a crise migratória e o problema do vício em fentanil. No entanto, as consequências diplomáticas podem ser severas. O regime comunista de Pequim respondeu a esse novo aumento de tarifas, anunciado para o próximo dia 4 de março.
“A coerção não é a melhor forma de lidar conosco”, advertiu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian. Em seguida, acrescentou que a China “lamenta e se opõe a essa decisão e tomará as medidas necessárias para defender seus interesses legítimos”. Embora o diplomata não tenha antecipado ações concretas, esse novo episódio sinaliza maiores tensões, especialmente porque, no início de fevereiro, os Estados Unidos impuseram um aumento de 10% sobre as tarifas, elevando o total para 20%.
Trump afirma que os esforços para conter a entrada de fentanil nos Estados Unidos são insuficientes por parte do México, do Canadá e da China. Os dois primeiros, por serem vizinhos da maior potência mundial e por abrigarem cartéis que participam da fabricação, distribuição e venda da droga. No caso de Pequim, a questão é ainda mais complexa, pois grandes quantidades de precursores químicos – ingredientes utilizados na produção do fentanil – são enviadas da China para a fabricação da droga.
Por que Trump culpa a China pela crise do fentanil
A situação atual é resultado da escalada de um problema que se agravou por erros de governos anteriores, tensões ocasionais com a China e a suposta omissão ou cumplicidade do regime de Xi Jinping ao permitir que toneladas de fentanil entrem nos Estados Unidos. Agora, com o novo aumento de tarifas, o porta-voz do governo chinês afirma que Washington tem “usado a questão do fentanil como pretexto para intensificar a pressão tarifária e a chantagem”.
Mas Trump tem seus próprios argumentos para responsabilizar a China pela crise do fentanil que assola os Estados Unidos. Somente em 2022, 73.654 pessoas morreram por overdose dessa droga sintética, de acordo com fontes oficiais. É como se um avião de passageiros transportando mais de 200 pessoas caísse todos os dias, conforme explicou o então deputado republicano Mike Gallagher no ano passado. Trata-se, portanto, de uma grave crise de saúde pública.
Embora a China não seja a única responsável, diversas investigações – como as conduzidas pelo InSight Crime – descrevem como vendedores de precursores químicos estruturam redes de comércio altamente sofisticadas para garantir que as cargas cheguem aos Estados Unidos. Esse comércio bilionário dificilmente passaria despercebido pelo regime de Xi Jinping, o que explica por que Trump direciona sua crítica ao gigante asiático.
Como responderá Xi Jinping
Essa disputa tarifária entre os Estados Unidos e a China pode provocar uma resposta ainda mais enérgica de Pequim. Ao afirmar que “fará o que for necessário para defender seus interesses legítimos”, é provável que o regime comunista adote medidas retaliatórias, como a imposição de tarifas sobre as importações de gás e petróleo, algo que já aconteceu no início de fevereiro.
O Ministério das Finanças da China determinou a aplicação de um imposto de 15% sobre certos tipos de carvão e gás natural liquefeito, além de uma tarifa de 10% sobre o petróleo bruto, máquinas agrícolas, automóveis de grande porte e caminhonetes, conforme reportado pela CNN.
Além das idas e vindas tarifárias, o contexto aponta para um aumento das tensões com a China, justamente quando as relações diplomáticas com a Casa Branca também se deterioram na Europa. Isso ocorre especialmente pelo posicionamento de Trump em relação ao governo ucraniano de Volodímir Zelenski, ao sugerir, de maneira indireta, que a Ucrânia aceite os termos de Vladimir Putin para encerrar a guerra.