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China paga mulheres para engravidar: uma solução desesperada para a crise de natalidade

O regime de Xi Jinping ampliou o programa que cobre as despesas de manutenção pagas às funcionárias durante a licença maternidade. O fato é que o baixo número de nascimentos ameaça o sistema econômico do gigante asiático.

O Partido Comunista Chinês (PCCh) tem sua estratégia geopolítica e econômica cuidadosamente planejada. Cada vez que a liderança do regime de Xi Jinping se reúne, estabelece diretrizes para manter seu status como potência mundial. No entanto, há uma coisa que eles não conseguem resolver: o declínio da natalidade. Somente em 2024, sua população caiu 1,39 milhão. Este foi o terceiro ano consecutivo de contração.

O regime chinês tentou de tudo, desde incentivar casamentos entre províncias até aprovar iniciativas de “encontros rápidos” para jovens adultos e políticas para reduzir os custos da gravidez e do parto. Devido a esses fracassos contínuos, o comunismo chinês anunciou agora que pagará às mulheres para terem filhos.

As mulheres chinesas já se beneficiavam de benefícios por gravidez em algumas províncias, mas o governo decidiu expandir o programa a partir de 1º de novembro. Ele cobrirá quase 90% de todas as áreas de previdência social do país e, de acordo com a Administração Nacional de Segurança da Saúde (NHSA) da China, esses subsídios cobrirão “as despesas de subsistência pagas aos funcionários durante a licença-maternidade”. Esta é uma nova tentativa de reverter a baixa taxa de natalidade, que, a longo prazo, representará um risco para o modelo econômico chinês, que se concentra na produtividade e no consumo interno.

“Sociedade favorável ao parto”

Em setembro, Pequim anunciou um subsídio nacional de 3.600 yuans (cerca de US$ 500) por ano para cada criança menor de três anos, a fim de reduzir o ônus financeiro de ter filhos. Mas a tentativa fracassou. Jovens chineses afirmam que o custo de vida — moradia, educação e creche —, somado às pressões do trabalho, está fazendo com que adiem ou renunciem à ideia de ter filhos.

O resultado: as famílias estão substituindo bebês por animais de estimação. Espera-se que esses companheiros de quatro patas dobrem o número de crianças até 2023, de acordo com um estudo  do Goldman Sachs. Em outras palavras, a empresa financeira global explica que a China terá “mais de 70 milhões de animais de estimação urbanos e menos de 40 milhões de crianças menores de quatro anos”.

Todos esses fatores se tornam um problema que o establishment comunista chinês não consegue decifrar, apesar da propaganda estatal que fala em criar uma “sociedade amiga da criança”. Embora os países ocidentais também tenham relatado uma tendência semelhante em termos de taxas de natalidade, na China o problema é agravado pela política intervencionista do filho único, em vigor de 1980 a 2015. A partir de 2016, toda a população foi autorizada a ter até dois filhos. Posteriormente, em 2021, esse limite foi aumentado para três. Ainda assim, o problema é muito mais complexo.

US$ 95.000 para criar um filho na China

O custo médio para criar um filho até o nível universitário na China (de 0 a 22 anos) é de 680.000 yuans (mais de US$ 95.000), de acordo com um relatório da YuWa Population Research, um think tank sediado em Pequim. Isso equivale a mais de US$ 4.300 por ano.

Assim, quando o regime anunciou pagamentos de US$ 500 por ano, as redes sociais chinesas explodiram em críticas. Um artigo do Washington Post citou alguns comentaristas que disseram que considerariam ter mais filhos se o subsídio fosse dez vezes maior do que o oferecido.

Embora esses pagamentos estatais gerem distorções, como o aumento do déficit orçamentário do país, somado à crescente dependência da população desses tipos de subsídios, o regime chinês — que baseia sua economia no capitalismo enquanto impõe ideologicamente a agenda comunista — não tem escolha a não ser ativar todos os mecanismos disponíveis para evitar um maior declínio populacional.

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