Um relatório do Ministério Público do Chile reconhece as relações do Comando Vermelho com gangues nacionais no tráfico de cocaína.
Falar sobre o Comando Vermelho (CV) fora do Brasil já não é insignificante, especialmente após a operação policial realizada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, contra essa importante quadrilha de narcotráfico. Seu poderio bélico e expansão territorial despertaram o interesse das autoridades chilenas após a confirmação, pelo Ministério Público, de vínculos entre organizações cariocas e o grupo criminoso do Rio de Janeiro, que trafica cocaína e maconha na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.
Embora o documento que detalhava os laços do CV com o crime organizado chileno tenha vazado cinco dias antes do destacamento nas favelas da Penha e do Alemão, seu conteúdo passou praticamente despercebido. Os eventos sangrentos daquele dia mudaram tudo.
Segundo o relatório do Ministério Público, “as organizações criminosas dedicadas ao narcotráfico no Chile evoluíram para formas cada vez mais complexas e coordenadas, típicas do crime organizado transnacional”, e “foram identificadas ligações com o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, ambos do Brasil, dedicados ao tráfico de cocaína proveniente da Bolívia e do Paraguai”.
Descobertas conhecidas
Além disso, o documento não só analisa a ascensão das organizações internacionais em seu território, como também identifica suas três principais atividades: os mercados ilícitos onde movimentam drogas e armas, seus crimes predatórios ou parasitários, como exploração sexual, sequestros e extorsão, além de crimes relacionados à obtenção e manutenção de lucros ilícitos, incluindo lavagem de dinheiro e homicídios.
Os resultados apontam para um aumento contínuo de sequestros e extorsões, bem como para uma maior sofisticação tecnológica das organizações criminosas, juntamente com uma crescente infiltração nas economias locais e nos mercados ilícitos, especialmente nas macrorregiões Norte e Central.
Alertas de expansão
O conteúdo do documento confirma as investigações que o Ministério Público vem conduzindo desde o ano passado. De fato, o diretor da Unidade de Crime Organizado da Procuradoria-Geral da República, Ignacio Castillo, revelou em março de 2024 que havia uma investigação em andamento após uma onda de assassinatos no Paraguai em 2021, que foi ligada a facções do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização originária de São Paulo, e do Comando Vermelho (CV), originário do Rio de Janeiro.
No entanto, rastreá-los tanto dentro quanto fora do Brasil é complexo devido à diversificação de seu portfólio criminoso, que inclui crimes cibernéticos como lavagem de dinheiro com criptomoedas e golpes online. Essa capacidade de expansão levou o Procurador Regional de Antofagasta, Juan Castro Bekios, a alertar para uma maior incursão de ambas as gangues brasileiras através do futuro Corredor Bioceânico do Trópico de Capricórnio, que conectará os portos chilenos de Antofagasta e Mejillones aos mercados do Brasil, Paraguai e Argentina.
Além disso, em seu alerta emitido há três meses, durante uma sessão de trabalho organizada pela Procuradoria-Geral da República, afirmou que o PCC foi o autor intelectual e material do maior roubo da história da América Latina, após furtar 40 milhões de dólares dos depósitos de uma corretora de valores em Ciudad del Este, no Paraguai, e ainda planejou o assassinato do procurador-geral paraguaio, Marcelo Pecci, na Colômbia, em 2022.
Outros contatos com histórico
Dentre as informações de contexto que as autoridades chilenas estão analisando, destaca-se o contato entre gangues chilenas de narcotráfico e o Terceiro Comando da Capital (Terceiro Comando da Capital, TCC) para promover crimes como tráfico de drogas, tráfico de pessoas e exploração sexual, além do controle em áreas urbanas e em presídios.
Nesse sentido, o relatório identifica 16 grupos internacionais do crime organizado atuando no Chile, como o Tren de Aragua, originário da prisão de Tocorón, na Venezuela, além de redes do Peru, México, Colômbia, Equador, República Dominicana e China. Essas associações facilitam a logística de exportação de cocaína para mercados na Europa e Oceania.
O Congresso do Sul está em choque. Horas depois da divulgação do conteúdo, Juan Manuel Fuenzalida, deputado da União Democrática Independente, pediu ao Ministério da Segurança Pública esclarecimentos sobre a situação da influência de todos os grupos criminosos que atravessaram a cordilheira.
