O chatbot torna-se uma opção atraente quando os serviços médicos públicos estão colapsados e sem recursos. Os habitantes da ilha chegam a pedir à ferramenta receitas de remédios caseiros para substituir xaropes ou antibióticos.

Não é segredo que o acesso a um médico em Cuba se tornou um privilégio. O sistema público de saúde sequer garante um nível mínimo de eficiência aos cidadãos no que diz respeito ao tratamento de sintomas ou doenças que poderiam ser curadas em poucos dias. E os números confirmam essa situação alarmante: o país conta com apenas 75.364 médicos para quase 11 milhões de habitantes, o que representa uma perda de mais de 30.000 profissionais em comparação com 2021, quando o número era de 106.131, segundo dados do Ministério da Saúde Pública (MINSAP).

Os salários também não são um incentivo. Após uma reforma em 2021, o salário inicial para um profissional de saúde recém-formado subiu para 4.610 pesos cubanos (um pouco mais de US$ 10, segundo a taxa de câmbio informal). Para residentes, esse valor aumenta para 5.060 pesos. Ao concluir a especialização, a renda sobe para 5.560 pesos. Essa realidade, aliada à escassez de medicamentos, leva os cubanos a recorrer a um método de diagnóstico não convencional: o uso do ChatGPT, uma ferramenta de inteligência artificial.

A disponibilidade de chatbots torna-se uma opção atraente quando os serviços médicos públicos estão sobrecarregados e com poucos recursos. Isso levou Dorothy, uma moradora de Havana de 29 anos, a consultar o ChatGPT sobre sua febre, dores nas articulações e salas de emergência superlotadas. A resposta foi “descansar e beber bastante líquido”. Em seu depoimento, ao qual o 14yMedio teve acesso, ela revela que “não sabe o que teria feito sem isso”, pois estava “com dores intensas há dias”. “Disseram-me que a sala de emergência estava cheia de pessoas com o mesmo problema, sem analgésicos nem nada.”


Da promessa de “assistência médica gratuita” ao diagnóstico no ChatGPT

O fato de as pessoas em Cuba precisarem consultar o ChatGPT sobre seus sintomas para obter um diagnóstico revela duas faces da mesma moeda. Por um lado, demonstra que a inteligência artificial se tornou uma ferramenta poderosa na sociedade, a ponto de ser treinada para responder a perguntas médicas. Por outro lado, serve como um lembrete de como as promessas do comunismo acabam em fracasso. Oferecer “assistência médica gratuita e pública” não passa de uma utopia, pois é insustentável para os cofres públicos, já sobrecarregados pela corrupção que caracteriza os governantes, neste caso, o regime de Castro.

O regime, atualmente liderado por Miguel Díaz-Canel, justifica a crise cubana culpando o “embargo dos EUA”. Mas os milhões que recebe de missões médicas no exterior desmentem essa narrativa. Entre 2022 e 2025, isso garantiu à ditadura uma receita de 2 bilhões de pesos mexicanos (equivalente a cerca de 100 milhões de dólares), segundo uma investigação do El Universal.

O chatbot com inteligência artificial torna-se, então, a opção mais viável para os cidadãos comuns. Tudo o que é necessário é acesso à internet para um “diagnóstico” gratuito. Além disso, em Cuba, o acesso a medicamentos é praticamente inexistente, por isso o ChatGPT também recomenda chás de ervas como alternativa a xaropes ou antibióticos.

A precisão médica limitada da IA 

O caso de Dorothy é a regra, não a exceção. Em junho deste ano, o site Cubanet noticiou que a maioria dos pacientes “morre por falta de medicamentos para emergências; outros, devido ao manuseio e higiene inadequados de equipamentos médicos, como a reutilização de materiais que deveriam ser descartados”. Um médico de um hospital público em Havana, falando sob condição de anonimato, afirmou que, meses antes, uma paciente “na casa dos quarenta” chegou com acidose metabólica grave, causando vômitos e diarreia; ela precisava de algo tão simples quanto bicarbonato. No fim, a paciente morreu porque o medicamento não estava disponível.

Há considerações adicionais que não devem ser ignoradas. Um suposto diagnóstico do ChatGPT não substitui a consulta com um médico. Um estudo da Universidade de Binghamton, em Nova York, revelou que o ChatGPT alcançou uma precisão de 88% a 97% na identificação de termos de doenças; cerca de 91% para nomes de medicamentos; e de 88% a 98% para informações genéticas. No entanto, a precisão foi de apenas 49% a 61% quando questionado sobre sintomas associados a doenças específicas.