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As principais ameaças à educação I

Artigo de 22 de junho de 2017

“A liberdade só pode existir sem o governo nos dizer como viver, o que dizer, o que pensar, o que saber e o que não saber” — Alieksandr Solzhienitsyn

Solzhienitsyn tinha uma grande experiência com o governo da URSS para saber o que falava. Mas não apenas os governos totalitários se intrometem na vida das pessoas. Nas últimas décadas esta intromissão tomou vulto assustador nos países assim denominados “democráticos”. Sua origem não é somente nacional, mas procedem principalmente de instituições internacionais como a ONU e a miríade de ONGs que a cercam.

No assunto que estamos abordando a interferência da UNESCO atingiu proporções intoleráveis. Já não se pode falar em educação nacional em nenhum país ocidental. “Especialistas” globais se arrogam o poder de interferir diretamente no currículo, impondo a formação de “cidadãos para um mundo globalizado”.

Desnecessário dizer que nada disto ocorreria sem o concurso de “especialistas” locais aboletados no Ministério da Educação e nas Secretarias Estaduais, muitas vezes membros das mesmas ONGs.

Os estudantes neste império do politicamente correto são ensinados a rejeitar a noção de verdades absolutas e aceitar o relativismo em todas as áreas, principalmente moral, ética e religiosa. A tradição e os valores nacionais e ocidentais são vistos como intolerantes e devem ser rejeitados em favor de “valores” internacionais (globais). Impera o multiculturalismo, todas as “culturas” – conceito cujo valor de grande conhecimento se esvaiu numa teia de significados vazios – têm igual valor. “…a única cultura que não pode ser celebrada é a cultura que permitiu que todas essas outras culturas fossem celebradas” (Douglas Murray), exatamente aquela que deu origem à civilização ocidental Judaico-Cristã.

Um dos principais fatores para este verdadeiro desastre foi a paulatina retirada da educação do lar e entregue à escola.

Educação ou ensino?

“Educated men are as much superior to uneducated men as the living are to the dead” — Aristóteles

Diferencio esses dois temas por considerar que o primeiro se refere à família e o segundo à escola. Existem analfabetos educados e sábios sem nenhuma educação. A modernidade cada vez mais foi alijando a família e concentrando ambos na escola. Sou, no entanto, de uma geração na qual os dois temas eram bem delimitados: cabia à família educar e à escola ensinar. A participação da escola na educação se restringia à conduta disciplinar. A transmissão das tradições morais, éticas e religiosas vinha do lar. Cabia aos pais decidir se a educação religiosa deveria ser complementada pela escola, encaminhando seus filhos para escolas religiosas de sua fé, ou não. A escola não se arrogava o direito de educar e formar, mas em sua tarefa, o ensino, era criteriosa e exigente. Os professores conheciam o assunto que ensinavam, sem intricadas teorias ou técnicas pedagógicas para atrapalhar.

A pressão para esta entrega deve-se a dois fatores: de um lado pais inseguros formados nas décadas pós-guerra que de tanto criticar seus pais – era a época da “libertação” sexual, das ações revolucionárias, dos festivais tipo Woodstock onde tudo era permitido – não souberam assumir suas responsabilidades como pais e preferiram entrega-las à escola. De outro, “educadores”, ávidos de controlar e doutrinar os estudantes ao invés de ensiná-los, pedagogos cheios de teorias que queriam testar no farto material humano que lhes era entregue como cobaias. Não havia como a educação e o ensino não decaírem a níveis vergonhosos. Em todos os países ocidentais este fenômeno ocorreu, mas no Brasil assumiu proporção assustadora!

Era inevitável que aparecessem inúmeros problemas principalmente para os estudantes, desde um ensino deficitário e perverso onde a história é continuamente reescrita e deturpada ideologicamente, até gravíssimas intervenções médico-psicológicas que serão objeto da continuidade deste artigo.

O que a confraria médico-psicopedagógica está fazendo com nossas crianças?

“…as crianças são de longe o grupo mais classificado e rotulado de nossa sociedade. Advirto contra ‘as prescrições institucionais de um sistema que procura enquadrar as crianças em categorias diagnósticas'” Frank Putnam

Desde a década de 80 a psico-medicalização da infância vem assumindo proporções alarmantes. A escola, além de abdicar de sua missão primordial de ensinar, assumiu o papel de clínica psicológica. A idealização dos sentimentos e o consequente abandono da racionalidade – esta abominação inventada pela civilização ocidental – estimularam a formação de grupos onde os alunos, mesmo de tenra idade, são estimulados a discutirem seus sentimentos abertamente. Inventou-se a ideia do bullying e tentou-se destruir a agressividade natural e necessária para o desenvolvimento (o que é diferente de coibir a destrutividade), principalmente nos meninos para inibir o desenvolvimento da masculinidade dos futuros “machistas”, pois a participação do movimento feminista na degradação da educação e no nível dos professores é enorme. As histórias infantis, depuradas de qualquer maldade, se tornaram contos aborrecidos e sem graça.

“A proteção terapêutica – terapismo – é como colocar viseiras nas crianças antes de levá-las a passear no campo cheio de vida”. (Christina Hoff Sommers & Sally Satel, M.D). O terapismo é uma invenção da psicopedagogia para anular a invidualidade, “desconstruindo” os valores familiares e a produção espontânea do pensamento infantil.

Problema mais grave, no entanto, é a medicalização de aspectos do desenvolvimento normal das crianças. Referindo-se aos EUA, o Dr. Chester M. Pierce, psiquiatra, deixou claro em seu discurso para o Seminário Internacional de Educação da Infância em 1973, haver um propósito subversivo por trás da profissão psiquiátrica.  “Toda criança na América que ingressar na escola com a idade de cinco anos pode ser considerada insana, porque vem para a escola com certas fidelidades aos nossos pais fundadores, em relação aos nossos funcionários eleitos, em relação aos pais, em relação a uma crença em um ser sobrenatural, e em relação à soberania desta nação como uma entidade separada. Cabe a vocês como professores curar todas essas crianças doentes – criando a criança internacional do futuro”.

Pode parecer exagero, mas estas palavras, adaptadas, podem ser usadas para descrever o que ocorre no Brasil. G. Brock Chisholm, psiquiatra e co-fundador da Federação Mundial de Saúde Mental afirmou que para alcançar um governo mundial, é necessário remover das mentes dos homens seu individualismo, a lealdade às tradições familiares, patriotismo nacional e dogmas religiosos…”.

Além da extensa doutrinação para transformar as crianças em meros cães de Pavlov, inventaram-se falsos diagnósticos psiquiátricos para condições normais em crianças irrequietas e curiosas, sendo a principal o “Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade”. Pais amedrontados pela atividade natural de seus filhos e professores que querem salas de aula com robozinhos bem comportados uniram-se a psiquiatras ávidos de pacientes e laboratórios visando enormes lucros para aceitar sem nenhuma crítica esta falsa síndrome já reconhecida pelo seu próprio criador, Leon Eisenberg, como “um excelente exemplo de uma doença fictícia”.

A existência de diagnósticos também influencia a visão que os pais e professores têm das crianças sob seus cuidados. Muitos professores e pais ouviram falar de “hiperatividade” e mais especificamente de déficit de atenção/hiperatividade. Muitos profissionais não especializados em saúde mental acreditam que podem fazer este diagnóstico.

Diane McGuiness declarou em 1989: “Nos últimos 25 anos fomos levados a um fenômeno raro na história. Pesquisas metodológicas rigorosas indicam que o síndrome de Distúrbio do Déficit de Atenção e Hiperatividade simplesmente não existe. Inventamos uma doença, a sancionamos e agora devemos desmenti-la. O maior problema é saber como vamos matar o monstro que nós criamos. Não é fácil fazer isto sem nos desmoralizarmos”.

Para não me alongar demais devo fazer um último aviso: a prescrição de medicamentos para as crianças é amplamente justificada com base nestes diagnósticos. A mais conhecida é a Ritalina, droga com efeitos colaterais extensos e que causa muitas vezes os sintomas que pretende curar. Seu uso por tempo prolongado pode causar danos cerebrais irreparáveis, além de criar dependência física e assegurar futuros clientes psiquiátricos e fregueses dos laboratórios produtores de drogas psicotrópicas. Mas estes fatos são geralmente escamoteados aos pais.

Segundo Breggin & Breggin a “cura” para essas crianças é uma atenção mais amorosa e racional por parte do pai. Os jovens estão hoje em dia sedentos de atenção por parte de seus pais, atenção que pode vir de qualquer adulto do sexo masculino.

A má influência do feminismo ativista e gay tenta feminizar os homens e retirar deles sua função específica: de chefe da família.

Artigo apresentado ao Forum sobre Educação do Clube Militar. É o primeiro de uma série.

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