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Às armas

Publicado originalmente em “O Legionário”, N.º 73, 25 de janeiro de 1931, pag. 1

Quero comentar o excelente artigo que o Sr. Michel d’Arnoux publica hoje no “Legionário”. Quando uma região é cortada por um rio caudaloso, costumam os agricultores fazer pequenas derivações que levem as águas a regiões que, de áridas que eram, se tornarão férteis e cheias de vida.

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Assim também, quando ouvimos a doutrina cristã, este rio caudalosíssimo, cujas águas são suficientes para tornar férteis de virtudes e cheias de vida as almas mais áridas, devemos fazer pequenas derivações que conduzam as águas dos princípios ao terreno prático das consequências particulares.

O congregado Michel d’Arnoux, com o talento que lhe é peculiar, publica hoje um artigo excelente sobre “As três ordens de caridade”. E aproveita a oportunidade para nos lembrar que teremos que prestar contas ao terrível “Dominus Deus Sabaoth” (o Senhor Deus dos Exércitos – cfr. Rom. 9, 29) dos talentos que não empregarmos na caridade ao próximo. É daí que pretendo tirar uma modesta derivação que, como delgado filete de água, deverá regar e tornar cheia de frutos a vida prática do católico.

Hoje em dia, uma das manifestações mais deploráveis do crasso materialismo que por toda parte vemos reinar, é que não só a virtude se acha completamente abolida em muitos corações, mas também truncada, mutilada, caricaturada em muitos outros que, no entanto, se reputam muito bons.

Por toda parte vemos imperar o terrível corrosivo que é o individualismo. Por toda parte assistimos ao triunfo brutal da carne sobre os sentimentos nobres. Por toda parte, enfim, a vitória da matéria sobre o espírito, da paixão sobre a razão, do mal sobre o bem.

No entanto, é-nos grato constatar que ainda existe o fogo da caridade, que ainda crepita em muitos corações bem formados.

Mas nas próprias pessoas nas quais o egoísmo ainda não é soberano absoluto foi tão difícil escapar ao contágio do ambiente, que a caridade se acha como que deteriorada por uma certa infiltração de materialismo: compreende-se, pratica-se e louva-se a caridade feita em benefício do corpo. Foge-se, censura-se, condena-se a caridade feita em benefício do espírito. É uma espécie de filantropia materialista, que vê no corpo o fim último do homem, e no espírito apenas um acessório destinado a registrar benevolamente as delícias de que o corpo deve gozar.

Uma ótima ocasião para reagirmos contra esse estado de coisas se nos apresenta agora, com as reivindicações feitas pelos elementos católicos os mais representativos, com relação à vida política do povo brasileiro.

Se se tratasse de fundar um grande hospital onde recolher doentes de toda a espécie, que entusiasmo não despertaria a atitude do Episcopado paulista, a reunir-se para tratar do alívio dos corpos! Quantas e quantas mãos generosas não se abririam para concorrer com um óbolo em benefício dos doentes do corpo! De que glória e de que auréola de santidade não se cercariam eles se tomassem uma atitude de meros pastores do corpo!!

No entanto, não foi essa a missão de que os incumbiu o Divino Mestre. O Episcopado e em geral o Clero não são uma falange de pastores do corpo, mas sim de pastores de almas. Não é para salvar a matéria, que cedo ou tarde perecerá, que o Messias veio ao mundo. Não é para alívio dos corpos que a Igreja foi constituída: “Ide e pregai a todos os povos” (Mt. 28, 19). A grande caridade é portanto a pregação, e não é a caridade do corpo, a caridade da matéria.

Move-se agora a Igreja. Reivindica, reclama garantias que lhe permitam exercer com mais eficiência o seu pastoreio de almas.

Movem-se, também, os (…) que querem fazer ao Brasil o presente de um cavalo de Tróia – o laicismo – que traz em seu bojo o comunismo, a imoralidade, a dissolução dos costumes, o impatriotismo. (…)

Movem-se os comunistas, acobertados pela proteção covarde de elementos que não ousam manifestar-se ostensivamente, como certos leprosos que escondem sua enfermidade porque sabem que a simples vista de suas chagas afugentará seus companheiros.

É necessário que nós, católicos, nos lembremos mais do que nunca da caridade do espírito. Que preguemos, que discutamos, que propaguemos por toda parte as idéias salutares das quais depende o sucesso de nossa causa, o sucesso do Brasil.

É um sacrifício que a Igreja tem o direito de exigir de nós, é um serviço que nós temos o dever de lhe prestar.

Para terminar estas rápidas considerações, cabe-me somente reproduzir uma expressão cara ao nosso Dr. Paulo Sawaya: nos tempos de hoje, quem não é apóstolo é apóstata.

Se tivermos sempre em vista estas considerações, se soubermos cumprir com um de nossos maiores deveres no momento, a Igreja vencerá. E assim como os tanques que, durante a guerra, esmagavam indiferentes os maiores obstáculos, a Igreja se sobreporá a todos os seus inimigos com a serenidade majestosa de quem, há perto de dois milênios, está habituada a lutar com pigmeus.

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