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A que aspiram os jovens com o namoro?

No segundo Domingo deste mês, dia 12 de junho, comemorou-se no Brasil, como há décadas, o “Dia dos Namorados”. Essa comemoração, que em realidade é publicitária – ainda que estrategicamente colocada antes da festa de Santo Antônio, o chamado “santo casamenteiro” – é tão inundada de propagandas comerciais, de relativizações sobre relacionamentos amorosos e até mesmo de erotismo, que muitas vezes os jovens se perdem nessa “neblina” de informações, misturando sentimentos, confundindo a razão, deixando-se levar por uma enxurrada de atitudes já esperadas por todos à sua volta, e, o que é pior, perdendo a preciosa oportunidade de se colocarem perguntas importantes, como: “Onde queremos chegar com este namoro”? “Por que queremos namorar”?

Há, entretanto, casais de namorados que astutamente sempre têm preparada uma resposta para essas questões, e dizem: “Queremos amar e sermos amados”! Desconfio que, principalmente se forem adolescentes, essa resposta talvez até seja astuta, mas não será realista, tendo em vista que os “pombinhos” pouco ou nada conhecem a respeito do que verdadeiramente se trata o amor esponsal. Talvez pensem conhecê-lo, mas um breve questionário revelaria que as fontes desse conhecimento são os exemplos dos filmes, das novelas, do bate-papo com os amigos, das histórias em quadrinhos, e, mais raramente, da literatura. Desafortunadamente, a não ser em um ambiente religioso, quase não encontraríamos quem ao menos citasse o amor de Deus.

Os poucos que fizessem menção a exemplos literários certamente não os iriam ter retirado de uma obra semelhante às famosas “Cartas Portuguesas”, que retratam uma paixão devastadora e ardente, capaz de frases como: “Todas essas emoções tão violentas me acabrunharam a tal ponto que, por espaço de mais de três horas, fiquei desfalecida! Proibia a mim própria regressar a uma vida que devo perder por ti, já que para ti a não posso conservar”. Não, essas expressões certamente não seriam bem aceitas pela juventude atual, que as consideraria cafonas, ou extravagantes. Em tempos onde o vampirismo, as histórias de zumbis e outras bizarrices estão no centro do imaginário juvenil, se tomássemos dois exemplos da literatura inglesa e os submetêssemos à apreciação desse público, verificaríamos que talvez o ideal de amor de alguns namorados esteja tão definitivamente distante de uma história como “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare – concebida como tragédia, mas que ao longo do tempo tornou-se um arquétipo do amor juvenil –, quanto sombriamente próxima de um romance como “Drácula, o Vampiro da Noite”, de Bram Stoker.

A que, afinal, aspiram os jovens com o namoro? Em tempos onde o “santo casamenteiro” era mais assediado, supunha-se que era ao casamento, à constituição de uma família. Ao contrário do que sugere Rousseau – “Errando pelas florestas sem uma atividade produtiva, sem linguagem, sem domicílio, sem guerra e sem vínculo, sem nenhuma necessidade de seus semelhantes, […] o homem selvagem, sujeito a poucas paixões e bastando a si mesmo, tinha apenas os sentimentos e as luzes próprias desse estado” (“A Origem da Desigualdade entre os Homens”, Primeira Parte) –, o homem é naturalmente sociável, deseja a companhia do seus semelhantes, e, assim, é natural que sinta também o desejo de casar-se e de dar-se em casamento, de constituir uma família. A família é uma instituição de lei natural, é célula formadora da sociedade civil, é grupo fundamental onde se efetiva, em primeira instância, a sociabilidade humana. A família, nas palavras de Gustavo Corção, “é o lugar das primeiras experiências afetivas; é o ginásio das primeiras lutas da justiça, e viveiro onde se cultiva, ou se deve cultivar, a amizade que mais tarde, por expansão, constituirá o oxigênio moral das sociedades sadias […] Cada família, na sua existência singular e concreta, se instala numa sociedade preexistente […] e na medida em que se deixam levar, serão o que é a sociedade. E por aí se vê que o militante não pode isolar o problema e combater em prol da família sem combater, com igual ardor, em prol das estruturas sociais.” (“Claro e Escuro”, 1. Dificuldades). Assim, não bastam os protestos, os discursos e as discussões em favor da família, é preciso favorecer estruturas sociais que a comportem, que a protejam, que a promovam sadiamente e de acordo com os valores do Evangelho.

A revolução cultural moderna trouxe outras aspirações aos jovens namorados, que, estatisticamente, cada vez menos pensam no casamento e na família como aspirações pessoais. A dura realidade é que a família está “sob ataque”. Verifica-se em todos os cantos um individualismo que rompe com a Igreja enquanto organização social e arvora o indivíduo como juiz supremo e inapelável dos princípios que governam a sua mesma existência. Apesar de toda a falibilidade do indivíduo, ainda mais agravada pela atual moda do culto de suas próprias paixões e interesses efêmeros, a ele foi transferida integralmente a missão de pautar a liberdade dos seus atos. Estamos assistindo à implementação do plano revolucionário que, junto com Karl Marx, traçou Friedrich Engels, no final do século XIX, quando, usando uma definição não-cristã de amor, declarava: “Se somente o casamento baseado no amor é moral, só pode ser moral o casamento em que o amor persiste. Mas a duração do acesso de amor sexual individual é muito diversa segundo os indivíduos, particularmente entre os homens. Em razão disso, quando o afeto desaparece ou é substituído por um novo amor apaixonado, a separação será um benefício tanto para ambas as partes como para a sociedade” (“A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, 4. A Família Monogâmica). No dizer de Vinícius de Moraes: “Que o amor seja eterno enquanto dure”… Desejando realmente pôr fim ao modelo de família cristã, e interpretando-o de maneira equivocada e tendenciosa, Engels afirma ainda que: “De igual modo, o caráter particular do domínio do homem sobre a mulher na família moderna, assim como a necessidade e o modo de se estabelecer uma igualdade social efetiva entre ambos, não se manifestarão com toda a nitidez senão quando homem e mulher tiverem, por lei, direitos absolutamente iguais. Então é que se há de ver que a libertação da mulher exige, como primeira condição, a reintegração de todo o sexo feminino na indústria pública, o que, por sua vez, exige a supressão da família individual enquanto unidade econômica da sociedade” (Idem).

Para os socialistas, o casamento cristão é um sistema de dominação que subjuga a mulher, tira-lhe a liberdade e separa-a da sociedade; esse pensamento, desgraçadamente, penetrou nas consciências juvenis de nosso tempo, mesmo nas católicas, incutindo-lhes uma verdadeira aversão à ideia tradicional de casamento e de família. É preciso recordar aos jovens a necessidade de viver a vocação ao matrimônio, e consequentemente à vida em família, como uma vocação à santidade. Não em vão São João Paulo II declarou: “A instituição do matrimônio, segundo as palavras de Gênesis 2, 24, exprime não só o início da fundamental comunidade humana que, mediante a força ‘procriadora’ que lhe é própria [‘crescei e multiplicai-vos’] serve para continuar a obra da criação, mas ao mesmo tempo exprime a iniciativa salvífica do Criador, correspondente à eterna eleição do homem, de que fala a Epístola aos Efésios [Ef 1,6: ‘graça que nos deu em seu amado Filho’]” (Catequese de Quarta-feira, 06 de outubro de 1982). Ou seja, a instituição do matrimônio não foi querida por Deus apenas para o gozo do homem, ou para satisfazer seu desejo de convívio com os semelhantes mediante a procriação, mas também para nela salvá-lo.

É preciso ensinar aos jovens que se a aspiração maior de suas vidas for a salvação eterna, então o namoro não pode ser visto como um fim em si mesmo, como um simples “amar e ser amado”, mas como um instrumento que tem poder sobre o seu destino, e que precisa ser experimentado e vivenciado sem perder de vista o que realmente é: uma preparação e um discernimento que têm relação direta com a família e o matrimônio cristãos, e com a salvação eterna.

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