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A capacidade operacional militar das gangues criminosas na América Latina

A evolução das estratégias de guerra híbrida, somada à intervenção do narcotráfico e da criminalidade na política, dá a esses grupos um propósito político e direcional para exercer a violência, o que significa que eles vão além de serem simples organizações criminosas.

Nos últimos anos, as gangues criminosas na América Latina têm demonstrado a capacidade de dominar territórios e, por sua vez, disputar o controle e o poder com os Estados, mas isso não se resume apenas a dinheiro e corrupção; por trás disso, existem métodos, organização e planejamento, ou seja, táticas obtidas em manuais militares ou com pessoas com experiência militar.

Portanto, a transformação desses grupos conferiu ao crime organizado capacidades estratégicas e operacionais que, por sua vez, não podem ser combatidas pelas forças de segurança comuns; em outras palavras, as gangues não apenas gerenciam o comércio ilícito, mas também controlam territórios valiosos, como rotas, cidades, rios, áreas urbanas e economias locais.

Ao mesmo tempo, possuem a logística necessária para manter suas atividades nas áreas, integrando centros de fabricação e produção que, além de narcóticos, incorporam armas, drones armados e veículos blindados.

Subsequentemente, a evolução das estratégias de guerra híbrida, aliada à intervenção do narcotráfico e do crime na política, confere a esses grupos um propósito político e diretivo para o exercício da violência, o que significa que eles deixam de ser simples organizações criminosas e se transformam em grupos paramilitares que, por sua vez, são utilizados para influenciar decisões políticas.

1. Cartéis Mexicanos

Os cartéis de drogas mexicanos operam em uma vasta área geográfica com fraca presença estatal. Isso, aliado à fragilidade das economias locais e à falta de emprego, torna a região estrategicamente vantajosa para as atividades de grupos criminosos militarizados.

Os cartéis mexicanos também estão entre os grupos armados mais bem equipados e capazes. Eles possuem fábricas improvisadas de veículos blindados, drones armados e fábricas de montagem de armas leves.

Simultaneamente, por ser um país fronteiriço com os Estados Unidos, eles se beneficiam do mercado de armas civis e do acesso a excedentes militares, o que aumenta significativamente a variedade de armamentos disponíveis.

Assim, podemos observar nos arsenais desses cartéis fuzis de uso civil, metralhadoras pesadas Browning M2 .50, as antigas Browning M1919 A4, calibradas em 7,62×51, e, por sua vez, fuzis antimaterial Barrett .50 com capacidade para deter veículos blindados.

Eles também possuem drones civis adaptados para lançar granadas caseiras ou projéteis de queda livre, o que aumenta significativamente suas capacidades de combate tático. Por fim, a integração de pessoal com experiência militar, tanto nacional quanto estrangeira, confere a esses cartéis valor agregado em treinamento, organização e implantação tática.

Portanto, quando todos esses elementos são considerados em conjunto, os cartéis mexicanos demonstram maior capacidade de manobra, tanto estrategicamente (geografia, economia e condições socioeconômicas) quanto operacional e taticamente (pessoal, logística e equipamentos). Essa combinação enfraquece o controle estatal e exige a intervenção das forças militares em questões de segurança.

2. Narcoguerrilheiros (Colômbia, Equador e Venezuela)

Em seguida, vêm os narcoguerrilheiros de origem marxista, que usam a ideologia bolivariana para justificar a posse de armas e a organização de milícias, cujas áreas de influência abrangem a Venezuela, a Colômbia e o Equador.

Diferentemente dos cartéis de drogas mexicanos, esses grupos já possuíam estrutura militar e um propósito ideológico e político. Com o tempo, incorporaram o narcotráfico como mecanismo de financiamento, o que, por sua vez, expandiu suas atividades criminosas para áreas como a mineração ilegal, cujas operações se concentram na região de Arauca, na Colômbia e Venezuela, no sul da Colômbia e nas montanhas do norte do Equador.

Da mesma forma, por razões estratégicas e táticas, os narcoguerrilheiros operam em áreas rurais e em comunidades de difícil acesso. Eles também se aproveitam do terreno montanhoso e da densa selva para escapar das forças estatais, priorizando suas capacidades de agilidade, manobrabilidade e velocidade.

Portanto, os guerrilheiros possuem fuzis e metralhadoras leves, mas carecem de veículos blindados, veículos 4×4 blindados ou armas mais potentes, como metralhadoras pesadas ou canhões antiaéreos; ou seja, possuem apenas variantes do fuzil Kalashnikov originárias de países do Leste Europeu ou da China e armamento leve em geral.

Nos últimos anos, como consequência das rotas de tráfico de drogas, os grupos guerrilheiros incorporaram armas do mercado civil dos EUA, adicionando ao seu arsenal drones comerciais de fabricação chinesa adaptados para lançar dispositivos explosivos. Eles também usam morteiros antigos e improvisados ​​(tatucos). Ao contrário dos cartéis, esses grupos não possuem infraestrutura fixa nem uma base de operações permanente.

Vale ressaltar que, nos últimos anos, por razões políticas, o controle territorial de grupos criminosos aumentou. Da mesma forma, conflitos armados em áreas como Apure, na Venezuela, e Imbabura, no Equador, têm apresentado uma escalada acentuada da violência, evidenciando o poder e o alcance das narcoguerrilhas.

Em alguns casos, como na região de Arauca, na Venezuela, em 2020, o regime utilizou grupos guerrilheiros rivais para combater outras organizações criminosas na região. Da mesma forma, no Equador, o exército optou por usar armamento pesado, como lançadores de foguetes autopropulsados ​​BM-21 “Grad” (granizo), para expulsar garimpeiros ilegais e guerrilheiros da área.

Por fim, o propósito político desses grupos guerrilheiros os torna mais perigosos, pois possuem alianças e contatos dentro das estruturas governamentais, como se pode observar nos casos da Venezuela e, mais recentemente, da Colômbia.

De forma semelhante, grupos guerrilheiros e alguns exércitos estatais estão ideologicamente ligados pelo “bolivarianismo” ou “ideologia bolivariana”, que se refere aos ideais libertários de Simón Bolívar. Dentro dessa estrutura doutrinária, justificam a posse de armas, a formação de milícias e, consequentemente, a violação de fronteiras políticas para a realização de suas operações criminosas.

3. Comandos da Favela

Os comandos das favelas, também herdeiros das guerrilhas marxistas do Brasil, mas focados no combate urbano, aproveitam-se da densidade populacional e da infraestrutura precária para realizar suas operações em áreas socioeconômicas vulneráveis.

Os comandos das favelas operam taticamente de forma semelhante às guerrilhas colombianas, baseando-se na agilidade e mobilidade em ambientes urbanos densos. Recentemente, observou-se que utilizam fuzis do mercado civil americano e drones civis adaptados para lançar granadas e bombas de queda livre.

Da mesma forma, são abastecidas por meio de fábricas ilegais de montagem de fuzis e armamentos leves. Além disso, utilizam impressão 3D como base para seus projetos; por sua vez, o tráfico proveniente do Paraguai fornece fuzis AR-15, porém adaptados com peças estruturais de réplicas ou com peças artesanais faltantes que, por sua vez, se adaptam ao projeto original da arma.

A interconexão das rotas de tráfico de drogas

As diferentes rotas de tráfico de drogas e armas constituem a ligação entre os grupos criminosos na América Latina, além do fato de que fuzis são usados ​​como moeda de troca para pagar por carregamentos de drogas.

Com base nisso, podemos destacar que essa conexão transnacional está se tornando cada vez mais evidente, devido à identificação das armas apreendidas e sua origem. Em outras palavras, rastreando a proveniência do material e considerando possíveis rotas de tráfico de drogas, podemos identificar potenciais vínculos e conexões entre diferentes grupos.

Da mesma forma, potenciais alianças políticas, que integrem diferentes objetivos, os quais podem variar do comércio ilegal a interesses políticos estratégicos, podem representar um perigo para o futuro da estabilidade política da região.

Finalmente, a atividade criminosa aumenta progressivamente sua capacidade de distribuição e montagem de armas, que, por sua vez, aproveitando-se do terreno, da tecnologia moderna e do acesso a manuais técnicos, intensifica o tráfico por meio da fabricação de armas e da montagem de fuzis.

Podemos concluir que o aumento do tráfico de armas é consequência do conflito político e da falta de estratégias econômicas eficazes para mitigar a influência de grupos criminosos, aumentando o poder de compra das populações vulneráveis. Cabe ressaltar que as leis de desarmamento são ineficazes para solucionar esse problema e, ao mesmo tempo, agravam a situação, deixando maior controle nas mãos de organizações criminosas que lucram com o tráfico.

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