Enquanto a líder da oposição venezuelana se prepara para receber o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, os Estados Unidos acreditam que sua equipe “demonstrou maior preparo do que se pensava anteriormente” para liderar um governo de transição após a saída de Nicolás Maduro do poder, de acordo com um documento interno obtido pelo Washington Post.

A expectativa em torno da viagem de María Corina Machado a Oslo, na Noruega, para receber o Prêmio Nobel da Paz nesta quarta-feira, 10 de dezembro, cresce com o surgimento de um novo elemento que veio à tona na imprensa americana nas últimas horas. A líder da oposição venezuelana — após sua breve detenção em 9 de janeiro e o fracasso do plano de Edmundo González de entrar na Venezuela e tomar posse como presidente depois de vencer as eleições de 28 de julho do ano passado — havia sido relegada às sombras da clandestinidade, sem o poder de mobilização que possuía durante a campanha eleitoral e com apenas um apoio simbólico dos Estados Unidos. Washington acreditava que sua liderança havia enfraquecido e que sua equipe política era incapaz de garantir a estabilidade em uma nova Venezuela. No entanto, isso mudou. Com o prêmio que recebeu por sua incansável luta em defesa da democracia e dos direitos humanos, ela parece ter conquistado também um significativo voto de confiança da Casa Branca.

Segundo um documento interno obtido pelo Washington Post, a administração do presidente dos EUA, Donald Trump, acredita que a equipe de María Corina Machado “demonstrou maior preparo do que se pensava anteriormente”, referente a possíveis cenários para o dia seguinte à saída de Nicolás Maduro do poder e à reação das Forças Armadas venezuelanas aos planos de transição da oposição.

Uma purga militar limitada

Embora o veículo de comunicação esclareça que a equipe de Machado não compartilhou totalmente seus planos com as autoridades americanas por razões óbvias de segurança, um dos pontos-chave que dá mais confiança à Casa Branca é o fato de que a necessária purga nas fileiras militares seria “limitada”, já que apenas 20% dos oficiais venezuelanos são considerados “irrecuperáveis”, enquanto o restante se opõe à ditadura ou mantém uma posição “apolítica”, segundo o documento mencionado.

A este respeito, fontes consultadas pelo Washington Post com acesso à informação explicaram que, embora María Corina Machado e Edmundo González “não permitissem a coabitação”, o que significa que a liderança chavista “não teria lugar no novo governo”, também não seria necessário processar mais do que “algumas dezenas de funcionários do regime de Maduro”.

A administração Trump, segundo relatos, tem essa nova perspectiva sobre o plano de transição de María Corina Machado, enquanto ela se prepara para receber o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, na quarta-feira, acompanhada pelos presidentes da Argentina, Javier Milei; do Paraguai, Santiago Peña; do Equador, Daniel Noboa; e do Panamá, José Raúl Mulino. Ela também estará acompanhada por Edmundo González, vencedor da eleição presidencial do ano passado na Venezuela, com uma margem de quase 40 pontos percentuais sobre Nicolás Maduro, de acordo com os únicos resultados oficiais publicados e validados por observadores internacionais credenciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do regime, como o Centro Carter e o Painel de Especialistas das Nações Unidas.

Paz com pressão e sem mais decepções

Esta cerimônia de premiação também ocorrerá enquanto os Estados Unidos mantêm um enorme contingente militar na costa da Venezuela para combater o narcotráfico, mas com foco no regime de Maduro, com quem Trump chegou a conversar por telefone há algumas semanas, buscando esgotar todas as vias diplomáticas para uma possível saída negociada do poder. Inicialmente, a imprensa americana interpretou isso como um ultimato, mas hoje o Washington Post afirma que nenhum prazo foi estabelecido para atingir esse objetivo e que, em vez disso, ambas as partes se comprometeram a conversar novamente.

As informações que vêm à tona sobre a nova visão da Casa Branca para o plano de transição de María Corina Machado representam, sem dúvida, um renovado voto de confiança na oposição venezuelana, após a tentativa frustrada de Donald Trump de depor Nicolás Maduro durante seu primeiro mandato, quando ele apostou tudo na liderança de Juan Guaidó, que liderou o governo interino, agora extinto, que não conseguiu pôr fim à usurpação chavista, deixando o líder republicano profundamente decepcionado.

O desafio de retornar à Venezuela

O Prêmio Nobel da Paz impulsionou a liderança de María Corina Machado, que agora enfrenta o desafio de deixar a Venezuela para participar da cerimônia de premiação e depois retornar para continuar sua luta dentro do país. Caso contrário, Maduro teria sido o verdadeiro vencedor com o prêmio. Tudo indica que ela comparecerá pessoalmente para recebê-lo, conforme confirmado por Erik Aasheim, chefe de comunicação do Instituto Nobel, citando Machado: “Conversamos com ela ontem à noite e ela nos disse que estará em Oslo.”

ela comparecerá pessoalmente para recebê-lo, conforme confirmado por Erik Aasheim, chefe de comunicação do Instituto Nobel, citando Machado: “Conversamos com ela ontem à noite e ela nos disse que estará em Oslo.”

No entanto, até recentemente, as declarações apontavam na direção oposta. “Não posso sair do meu esconderijo porque há ameaças diretas à minha vida”, declarou María Corina Machado à imprensa norueguesa em outubro, enfatizando que a Venezuela precisa ser livre e Maduro precisa deixar o poder antes que ela possa sair de seu refúgio. Na mesma linha, o presidente do Comitê Nobel, Jørgen Watne Frydnes, descreveu a viagem de María Corina Machado a Oslo como “perigosa” porque, como ele lembrou, “o regime venezuelano declarou que quer se livrar dela”. Por esse motivo, ele solicitou garantias de segurança para ela tanto em sua chegada à Noruega quanto em seu retorno posterior à Venezuela.