Embora as estatísticas sejam claras, o fenômeno deve ser analisado avaliando o comportamento de toda a classe política e não apenas do governo.

Os dados são avassaladores, e o kirchnerismo não pode questioná-los, já que a metodologia de medição do Instituto Nacional de Estatística e Censos da época de seu governo não foi modificada. Além disso, até mesmo Marco Lavagna, que desempenhou as mesmas funções durante os anos da Frente de Todos de Alberto Fernández e Cristina Fernández, permaneceu no cargo, mesmo quando nenhum índice era favorável ao governo atual, que aplicou a “lei de prateleira” para tentar manter os preços.

No primeiro semestre do ano, a taxa de pobreza na Argentina foi de 31,6%, uma queda de nada menos que 21,3% em relação ao mesmo período de 2024. A taxa de pobreza extrema apresentou outro dado animador: embora os atuais 6,9% sejam preocupantes, o número é menor que os 18,1% do ano passado.

Em suas redes sociais, o ministro da Economia, Luis “Toto” Caputo, comemorou a boa notícia e reconheceu o trabalho realizado pelo Ministério do Capital Humano, liderado por Sandra Pettovello, nos setores mais vulneráveis ​​da população para reduzir a pobreza na Argentina.

É claro que o governo tem mérito nesses números. Por um lado, o fim do déficit fiscal e a emissão de moeda ajudaram a conter a crise inflacionária, que foi particularmente prejudicial aos mais pobres. Além disso, a remoção dos políticos que administravam os programas sociais (e que então recebiam uma parte extorquindo os beneficiários) também contribuiu significativamente, como pode ser visto agora nos novos números apresentados pelo INDEC ( Instituto Nacional de Estatística e Censos). No entanto, para entender esses números — e especialmente suas projeções de médio prazo — é necessário também focar na oposição.

Limitar a análise das boas notícias para os setores mais vulneráveis ​​(bem como dos problemas enfrentados por muitos argentinos de classe média) às consequências do plano do governo é uma abordagem incompleta. A oposição, com seu esforço sistemático para desarticular o sistema fiscal do Congresso, atua como uma espécie de “freio de mão” no plano econômico.

O kirchnerismo e seus aliados “centristas” se recusam a apoiar uma reforma trabalhista abrangente (que poderia trazer metade da renda irregular do país para o sistema formal), enquanto buscam aumentar os gastos com todas as desculpas possíveis. Enquanto isso, nas províncias e municípios da oposição, tudo o que fazem é questionar duramente o “plano motosserra”, que já demonstrou seus benefícios, apenas por não destruir ainda mais a moeda.

Embora os dados publicados hoje sejam animadores, a opinião pública deveria considerar que poderia ser muito melhor se o programa de reformas obtivesse maior consenso político. E não obteve, porque, se o plano der certo, essa classe política entraria em aposentadoria involuntária, eleita pelo povo argentino nas urnas.

Manter as contas em ordem, eliminar emissões irresponsáveis ​​e desregulamentar a economia dentro das competências do Poder Executivo são medidas que já demonstram benefícios para os argentinos mais vulneráveis ​​e de baixa renda. Se a oposição colaborasse na replicação do modelo nos distritos que governa, impulsionando o setor privado e o investimento, os dados seriam muito mais animadores do que já são. No mês que vem, os argentinos decidirão nas urnas se continuarão a impulsionar as políticas de reforma ou retornarão ao modelo anterior.