A competição já não se dá apenas nas ruas, mas também no terreno digital, como demonstra um estudo da organização Bolivia Verifica, que detectou um investimento de pelo menos 200.000 bolivianos —equivalente a cerca de 14.800 dólares— na divulgação de pesquisas falsas, descontextualização de declarações, falsificação de identidades e viralização de áudios e vídeos gerados com assistentes virtuais.
Sem um favorito claro nas pesquisas, a poucas semanas das eleições presidenciais, a campanha eleitoral se intensificou entre os candidatos, com anúncios de desinformação criados com inteligência artificial. O objetivo dessa estratégia é atacar Samuel Doria, candidato da Aliança pela Unidade, e Jorge “Tuto” Quiroga, candidato da Aliança Livre; as duas figuras da oposição que lideram a opinião pública.
A competição não se limita mais às ruas, mas também ao cenário digital, como demonstra um estudo da organização Bolivia Verifica , que constatou um investimento de pelo menos 200 mil bolivianos — o equivalente a aproximadamente US$ 14.800 — na divulgação de pesquisas falsas, descontextualização de declarações, roubo de identidade e viralização de áudios e vídeos gerados com assistentes virtuais.


Entre as peças manipuladas com inteligência artificial estão o suposto apoio ao presidente da Argentina, Javier Milei , juntamente com as falsas felicitações de Nayib Bukele ao candidato Jaime Dunn, que concorreu à Presidência, mas o Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia anulou seu pedido devido ao não pagamento de uma série de dívidas com a administração pública, o que o inabilita perante a lei.
Somando-se a essas declarações falsificadas dos líderes, há uma gravação de áudio na qual Samuel Doria supostamente é ouvido admitindo que está sendo solicitado “meio milhão” para manipular pesquisas.
Operação massiva
Segundo o relatório da agência sobre a campanha na Bolívia, tudo isso se enquadra em uma grande operação de desinformação que colocou anúncios nas páginas do Facebook Click News e Bolivia News com informações falsas sobre Samuel Doria e “Tuto” Quiroga entre maio e julho, o que simulou publicações em veículos de comunicação internacionais como BBC Mundo, CNN e Univisión.
A investigação aponta para dois sites de Cochabamba, o Click News e o Bolivia News, que apoiam o candidato do Súmate, Manfred Reyes Villa, prefeito de Cochabamba. Ele foi acusado pela justiça boliviana e buscou refúgio nos Estados Unidos, retornando ao país sob o governo de transição de Jeanine Áñez.
Ambos os sites vêm publicando sistematicamente informações falsas relacionadas a Doria e Quiroga nos últimos três meses, após um investimento de pelo menos US$ 6.000 na Meta Platforms, Inc. (empresa controladora do Facebook) para promover vídeos.
Distorção com intenção óbvia
Por trás dessa prática maliciosa, “há muitos interesses”, alerta Hugo Miranda, representante da Fundação Boliviana da Internet, em El Deber, após revelar que “alguns candidatos estão usando as redes sociais para pagar e publicar desinformação a favor de um candidato e contra outros. Eles estão usando as mesmas ferramentas que as redes sociais oferecem. Estão fazendo um candidato dizer algo que ele não disse e estão se passando por outras pessoas usando imagens de veículos de comunicação estrangeiros”.
Distorcer o clima eleitoral e até mesmo confundir os eleitores faz parte da estratégia da campanha. Para o especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação Rodolfo Huallpa, o único objetivo é influenciar diretamente o comportamento do eleitor, considerando a base de 25% de indecisos no país, faltando apenas três semanas para as eleições.
Com a eleição marcada para 17 de agosto, o partido governista também aposta em influenciar ou atrapalhar o desfecho da campanha para incentivar ou desencorajar o voto em um candidato específico. Dessa forma, o setor representado pelo atual presidente, Luis Arce, evita o debate pluralista e democrático.
Pesquisas falsas nas redes
A Bolívia Verifica informou que, durante a campanha, identificou mais de 25 pesquisas eleitorais falsas que buscavam posicionar candidatos e partidos políticos. As equipes de campanha de Doria e Quiroga solicitam uma investigação sobre a origem do financiamento dessa suposta guerra suja. Ambas concordam que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem a obrigação de assumir um papel mais ativo na denúncia desse tipo de conteúdo falso, bem como de estabelecer uma política de Estado clara sobre as sanções que aqueles que se envolvem nessas estratégias de desinformação podem enfrentar, tanto durante quanto fora dos períodos eleitorais.
“Vamos pedir ao TSE que intervenha nesta questão, na sua investigação, mas é claro que alguém que está mal nas sondagens, que está a descer, está desesperado; então provavelmente há vários atores, não apenas políticos. Se virem as redes sociais, há uma guerra suja aberta contra a Unidad”, declarou Roberto Moscoso, candidato a senador e porta-voz da aliança Unidad.