Com a incorporação da Colômbia à Nova Rota da Seda, Gustavo Petro coloca o país em uma situação complicada em relação ao seu principal parceiro comercial, os Estados Unidos, que, com Donald Trump na Casa Branca, pressionou o Panamá a cancelar definitivamente sua participação neste projeto chinês.

Desde que Gustavo Petro venceu a eleição presidencial da Colômbia em 2022, o regime comunista chinês viu uma grande oportunidade de aumentar sua influência no país sul-americano e na região. Não foi à toa que Xi Jinping foi um dos primeiros líderes a parabenizá-lo. Hoje em Pequim eles veem os frutos de seus elogios. Petro, que visita o gigante asiático para participar da quarta edição do fórum ministerial entre a China e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), anunciou que aproveitará a viagem para assinar a incorporação da Colômbia à Nova Rota da Seda, projeto emblemático de comércio exterior do regime chinês, com o qual busca ampliar sua influência global por meio de investimentos em nações subdesenvolvidas ou em desenvolvimento.

“Tanto a América Latina quanto a Colômbia são livres, soberanas e independentes. E as relações que estabelecemos com qualquer povo do mundo, norte, leste, oeste ou sul, devem ser baseadas em condições de liberdade e igualdade. Nesse sentido, decidimos dar um profundo passo à frente entre a China e a América Latina”, disse Petro da Grande Muralha da China, antes de se referir à histórica rede de rotas comerciais que durante séculos conectou o continente asiático ao Mediterrâneo europeu e à costa leste da África, conhecida como Rota da Seda, para justificar o apoio da Colômbia à retomada deste projeto, que a China apelidou de Iniciativa Cinturão e Rota, também conhecida como Nova Rota da Seda.

O que a China busca com a adesão da Colômbia à Rota da Seda?

O que Petro não diz é que a China usa essas abordagens para seduzir governos ocidentais com uma ajuda supostamente altruísta, mas com um objetivo geopolítico claro: aumentar sua influência comercial no chamado quintal dos Estados Unidos para arrebatar o título de maior potência mundial no curto prazo, uma competição que poderia ser considerada saudável e enquadrada na lei da oferta e da procura que rege o livre mercado, não fosse o fato de o gigante asiático ter alcançado um crescimento econômico significativo graças à exploração do trabalho, a rígidas restrições sociais e políticas, ao roubo de propriedade intelectual e às violações dos direitos humanos de minorias étnicas e religiosas.

Por essas razões, quando Giorgia Meloni assumiu o poder como primeira-ministra da Itália, ela abandonou oficialmente a iniciativa chinesa conhecida como Novas Rotas da Seda. Seu país era o único no mundo desenvolvido e membro do G7 que havia aderido ao projeto promovido por Pequim. Tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia, assim como outros países ocidentais, já haviam expressado grande preocupação com o que consideram uma tentativa da China de aumentar sua influência política e econômica no mundo, em detrimento das liberdades individuais e dos sistemas democráticos. Não se deve esquecer que o gigante asiático tem um sistema de partido único, onde o PCC (Partido Comunista Chinês) detém um monopólio político, mas também um enorme poder de decisão em grandes corporações.

Petro coloca a Colômbia em situação difícil com os EUA

Com a incorporação da Colômbia às Novas Rotas da Seda, Gustavo Petro coloca o país em uma posição difícil em relação ao seu principal parceiro comercial, os Estados Unidos, a quem ele tenta conquistar com uma proposta que, sem dúvida, não convencerá o governo Donald Trump. O presidente colombiano, que preside a CELAC desde o mês passado, anunciou nesta segunda-feira que o bloco, de clara inclinação esquerdista, quer realizar uma cúpula com os Estados Unidos, semelhante à que acontece hoje em seu quarto ano com a China, e que realizará com a União Europeia em novembro.

No entanto, Petro, que após assinar 12 acordos com a China durante sua primeira visita a Pequim em 2023 como presidente da Colômbia já com os olhos postos na iniciativa da Rota da Seda, esquece que naquela época estava na Casa Branca o presidente democrata Joe Biden, que mantinha uma política externa muito diferente da do atual presidente Donald Trump, que não só encurralou a China e mais de 180 países com suas tarifas para buscar condições comerciais favoráveis ​​aos EUA, mas também pressionou o Panamá com a ameaça de exigir a devolução do Canal para que o país centro-americano acabasse cancelando sua participação na Rota da Seda e, como exigia Washington, começasse a reduzir a influência das empresas chinesas em seus portos.